Canonização
Dulce: a doce irmã dos sergipanos torna-se a primeira santa do Brasil
Conheça a trajetória de fé da freira baiana que começou a vida religiosa em Sergipe
Brasil e Mundo | Por F5 News 13/10/2019 11h29

A celebração litúrgica de canonização da freira Irmã Dulce, agora Santa Dulce dos Pobres, reuniu cerca de 50 mil pessoas na Praça São Pedro, no Vaticano. Ela foi aclamada às 5h33 deste domingo (13) – horário de Brasília - em cerimônia presidida pelo Papa Francisco. O 'Anjo Bom' da Bahia ou a 'Doce Irmã' dos sergipanos se tornou a primeira santa brasileira. 

A religiosa baiana Maria Rita Lopes Pontes (1914-1992) teve dois milagres reconhecidos pela Igreja Católica, o primeiro deles em Sergipe no ano de 2001, quando as orações a Irmã Dulce teriam feito cessar uma hemorragia em Claudia Cristina dos Santos, que padeceu durante 18 horas após dar à luz o seu segundo filho.

Neste ano, foi reconhecido o segundo milagre: depois de 14 anos convivendo com uma cegueira causada por um glaucoma, o maestro José Maurício Moreira recuperou a visão em 2014. 

“Há um imenso mosaico de fé popular. A devoção à Irmã Dulce mobiliza todo o tipo de gente, de qualquer classe social”, descreve o jornalista Graciliano Rocha, autor da biografia Irmã Dulce, a Santa dos Pobres, que realizou pesquisa por oito anos no Brasil, no Vaticano e até nos Estados Unidos. Segundo ele, nos vinte anos após a morte da beata (entre 1992 e 2012) mais de 10 mil relatos de graças foram descritos em cartas de fiéis.

Trabalho social

Nascida em Salvador, Dulce teve uma trajetória de fé e obstinação marcada por rígidas regras de enclausuramento da igreja para prestar assistência a comunidades pobres da cidade, trabalho que realizou até a morte. Ela ingressou na vida religiosa como noviça na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, em São Cristóvão (SE).

Para o Graciliano Rocha, a vinculação à saúde tem muito a ver com o trabalho e o legado que a beata deixou após 60 anos dedicados à vida religiosa e à assistência aos mais pobres. Atualmente, as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) contabilizam 2,2 milhões de procedimentos ambulatoriais por ano, e dispõem de 954 leitos em cinco hospitais.

Segundo descreveu Maria Rita de Souza Brito, sobrinha da freira e superintendente das Osid, à agência de notícias do Vaticano, o complexo hospitalar interna, por ano, 18 mil pessoas, realiza 12 mil cirurgias, atende 11,5 mil pessoas em tratamentos de câncer.

As obras sociais tiveram início no ano de 1949, quando Irmã Dulce ocupou um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio para cuidar de 70 doentes. Onze anos depois, a futura santa cuidava de um hospital que dispunha de 160 leitos.

“Era um momento que não havia direito à saúde pública. As pessoas para serem atendidas em hospital público tinham que ter carteira de trabalho assinada. O hospital dela era o único que não rejeitava ninguém. Isso foi fundamental para que o colapso da cidade de Salvador não tenha sido pior na segunda metade do século 20. Isso é a base da santidade que ela tinha em vida”, avalia o biógrafo.

Assim como a história do galinheiro transformado em hospital, outras passagens alimentam a visão de que Irmã Dulce dedicou sua vida a acolher as pessoas mais humildes, como um menino ardendo em febre que a procurou pedindo para “não morrer na rua”. De acordo com o biógrafo Graciliano Rocha, o menino tinha 15 anos, trabalhava vendendo jornal na rua, era franzino e, provavelmente, sofria de malária. "Foi a primeira pessoa que a futura santa tirou das ruas", relembra Graciliano.

O local era próximo à Igreja do Bonfim, e ao avistar uma casa vazia e fechada, Irmã Dulce pediu a um passante que arrobasse o imóvel, assegurando que ela assumiria a responsabilidade. A freira providenciou colchão e um candieiro para o menino passar a noite, forneceu alimento, pediu que a irmã do pároco da Igreja do Bonfim cuidasse do garoto. Ela depois voltou com o médico.

“Irmã Dulce atendeu o menino. No dia seguinte, tinha diante de si uma cancerosa, que ela atendeu. Depois apareceram mais alguns necessitados, e ela foi atendendo”, complementa Dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador. O arcebispo ressalta que Irmã Dulce “era de baixa estatura, pesava somente 45 quilos, tinha uma saúde muito precária, dormia três ou quatro horas por noite etc. E, no entanto, foi à luta. Foi fazendo o que podia fazer, à medida em que os desafios se multiplicavam à sua frente”.

O processo de canonização da baiana foi o terceiro mais rápido da história da Igreja Católica (27 anos após sua morte), atrás apenas do papa João Paulo 2º (1920-2005) e de Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), cujo trabalho social foi comparado ao de Irmã Dulce nos últimos dias.

 

Fotos: Reprodução Globo e Acervo
*Com Agência Brasil

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