Sergipe está na rota do novo mercado do gás natural e as projeções de aumento da oferta, a partir de descobertas na camada pós-sal da bacia de Sergipe-Alagoas, animam investidores, que já apostam nas atuais condições do mercado brasileiro. A exemplo da empresa Golar Power, dona do primeiro terminal privado de regaseificação privado do país, instalado no litoral sergipano, que planeja utilizar a infraestrutura de cabotagem para transportar o gás natural para outros Estados, conforme destaca o vice-presidente da companhia, Marcelo Rodrigues, na entrevista exclusiva que concedeu ao portal F5 News. 

Segundo ele, essa seria mais uma alternativa de fornecimento do combustível, além da produção nas bacias brasileiras. O tema estará no centro das atenções nesta segunda-feira (9), quando o governo do Estado lança o Fórum do Petróleo e Gás, em Aracaju. No evento, também serão apresentados detalhes do fornecimento de GNL para caminhões em parceria com a Alliance GNLog, tecnologia ainda inédita no Brasil. Confira a entrevista do executivo: 

F5 News: A empresa detém 50% das Centrais Elétricas de Sergipe (Celse). Como estão as obras do Complexo Termelétrico da Barra dos Coqueiros?

Marcelo Rodrigues: Está na fase final fase de comissionamento e a intenção é entregar o empreendimento no início do ano que vem, ou seja, nesse momento estão sendo colocados os equipamentos para teste. O navio de GNL já tá conectado ao terminal, que tem a capacidade de escoar 21 milhões de metros cúbicos por dia e a térmica consumirá um terço dessa quantidade. Os outros dois terços ainda podem ser utilizados em outros projetos de ampliação da térmica, no nosso projeto de interiorização do gás aqui no Estado e no Nordeste inteiro, e até na própria conexão futura ao gasoduto da TAG de transporte para fornecer gás para toda a malha do gasoduto.

F5 News: Existe alguma tratativa para uso dos outros dois terços da planta? 

Marcelo Rodrigues: Nesta segunda-feira serão apresentados os equipamentos da Golar para interiorização do GNL, o nosso primeiro navio de pequena escala já está sendo fabricado e chegará ao Brasil no segundo semestre do ano que vem para fazer a cabotagem com o navio grande e fazer toda a operaçaõ de enchimento de containers para levar gás para o interior do Estado, nos locais onde efetivamente é consumido o gás. 

'A golar está muito otimista em relação ao Brasil', diz VP. Foto: Athuro Paganini

F5 News: Qual a vantagem desse processo de interiorização? 

Marcelo Rodrigues: Hoje 95% dos municípios do país não têm gás natural, que é um produto mais competitivo, ambientalmente mais correto, e que proporciona vários ganhos operacionais na sua utilização. A gente entende que disponibilizar o gás para uma determinada indústria, um shopping, e a disponibilidade do GNV para carros, por exemplo, é um fator muito relevante para o país. 

F5 News: Qual é hoje o montante de investimento que está sendo feito? 

Marcelo Rodrigues: São dois investimentos diferentes, a Celse investe algo em torno de R$ 5 bilhões na térmica. Já a interiorização do gás é uma iniciativa da Golar Distribuidora,  que pretende investir nos próximos anos US$ 100 milhões em todo o país. Num primeiro momento, em Sergipe, vamos disponibilizar o gás nos municípios de Lagarto, Nossa Senhora da Glória e Itabaiana, onde vamos instalar postos de GNV a partir do GNL e pretendemos atender algumas indústrias também, especialmente em Lagarto.

F5 News: Como a Golar avalia a articulação do governo diante desses projetos?

Marcelo Rodrigues: Temos tido apoio do governo de forma ativa. O Estado tem feito um esforço muito grande, dentro da legalidade, para acolher toda essa necessidade de investimento. No caso da térmica, por exemplo, Sergipe foi o Estado que proporcionou condições para implantação do projeto sob o ponto de vista de conexão da térmica com o sistema de transmissão de energia. Então, temos trazido de forma proativa investimentos para o Estado, que estão sendo muito bem acolhidos. 

F5 News: Quais são os maiores desafios do país para promover com eficiência o desenvolvimento do setor? 

Marcelo Rodrigues: O primeiro ponto chave é a regulação para que esse mercado destrave e se tenha mais de uma disponibilidade de gás. A segunda coisa é investimento em infraestrutura, seja na exploração do pré-sal para disponibilizar gás brasileiro para o Brasil, seja na infraestrutura de gasoduto no mar e  nos estados. Nos outros países esse processo é muito mais competitivo e há bons exemplos que podem ser praticados aqui no país.