Entrevista
Secretário do Desenvolvimento detalha etapas do 'Sergipe Águas Profundas'
José Augusto Carvalho ressalva que perspectiva do SEAP é a médio e longo prazos
Economia | Por Laís de Melo 07/03/2021 07h00

O programa Sergipe Águas Profundas (SEAP) tem ganhado cada vez mais destaque entre as ações da Petrobras. Subdividido em duas frentes, o projeto encontra-se em andamentos diferentes para cada etapa. Já tendo passado pela primeira fase, que corresponde à identificação de oportunidades, teve a sua segunda fase aprovada há pouco menos de um mês, e agora deve ganhar força em virtude dos bons resultados obtidos nos Testes de Longa Duração (TLD). 

A descoberta de gás natural no litoral sergipano, em 2019, foi a maior da Petrobras desde o pré-sal, em 2006. A previsão é extrair 8 milhões de m³ por dia do combustível, o que, na visão do Ministério da Economia, poderá ajudar a tirar do papel o esperado “choque de energia barata”, cuja perspectiva é baratear em até 50% o custo do gás natural. 

F5 News conversou sobre o projeto com o secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico, da Ciência e Tecnologia (Sedetec), José Augusto Carvalho. Na entrevista a seguir, ele comenta os potenciais de Sergipe para efetivar o projeto de ser a "nova estrela do gás natural".  

F5 News: O que coloca Sergipe em condições de receber o investimento previsto pela Petrobras de US$ 2 bilhões no planejamento estratégico 2021-2025?

José Augusto Carvalho: A geologia do petróleo está aqui. São campos muito promissores pela quantidade de óleo disponível que nós ganhamos, a natureza nos deixou aqui. Essa pesquisa de produção de Águas Profundas é uma tecnologia dominada pela Petrobras. Se falou em 20 milhões de metros cúbicos, mas a Petrobras é muito tradicional, e tem que ser, porque tem que haver responsabilidade com os números. Ela não pode negligenciar, nem se basear em achismos. Tem garantido esse número de 8 milhões para o SEAP1. Imagino que o SEAP2 terá mais 8 milhões, o que é um número bastante robusto.

F5 News - O que esse número representa em termos de produtividade? 

José Augusto - Fazendo um quantitativo interessante, esses 8 milhões de metros cúbicos dariam para abastecer duas termelétricas, ou uma termelétrica e um grande número de indústrias do território sergipano e mais as regiões de estados vizinhos. Temos muita esperança na chegada desse gás, por conta do que significa para o estado. 

F5 News - Onde e como esses US$ 2 bi serão investidos pelo programa SEAP? 

José Augusto - Há outros destinos de investimento que ainda não têm números. Mas eles anunciaram, na última reunião com o governador Belivaldo Chagas, que estão buscando a contratação da Unidade Flutuante de Produção, Armazenamento e Transferência (FPSO), que é o navio que extrai o petróleo e armazena. Quando ele fica cheio, eles transportam para outra unidade. Ele funciona como um navio plataforma. Como esse navio não existe pronto, é feita a contratação para a fabricação. É tudo feito sob medida, e não só por conta do tamanho, mas pelo tipo de óleo e da profundidade de lâmina d’água. 

F5 News - Há alguma estimativa de quando essa unidade flutuante chegará à costa sergipana para iniciar a produção?

José Augusto - A perspectiva do SEAP é de médio a longo prazos. Com esse contrato assinado, a fabricação do navio pode durar cerca de quatro anos, porque é uma obra gigantesca. Até 2025 vai estar nesta etapa de fabricação. Mas as etapas são rigorosas. Depois que a Petrobras contratou, a empresa tem um prazo e tem que seguir o contrato. Esse navio será transportado para ser instalado na costa de Sergipe e a expectativa é que o primeiro óleo seja entregue ao longo de 2026, e o primeiro gás em 2027. 

F5 News - Qual território onde haverá a exploração do gás natural em Sergipe?

José Augusto - É na costa de Sergipe, afastado dela 100km ao mar. A extensão é grande e atinge Aracaju, Barra dos Coqueiros, praticamente toda a região litorânea. O ponto de entrada desse óleo é no porto de Sergipe, na região da Barra. Com a chegada do gás no nosso solo sergipano, esperamos que a Petrobras anuncie uma Unidade de Tratamento de Gás, que é um outro investimento gigantesco - uma obra do porte da Celse. 

F5 News - O que está sendo feito na segunda fase do programa Sergipe Águas Profundas (SEAP)?

José Augusto - A segunda fase é a duplicação da primeira. Não tem muita novidade. Na primeira, eles já fizeram o licenciamento ambiental, depois fizeram vários poços que já foram perfurados, estão bastante adiantados nisso. Eles precisam agora fazer a instalação do equipamento que fica no fundo do mar, que eles chamam de 'árvore de natal', que são dutos que interligam vários poços que foram furados, e conectam no duto que suba esse óleo para o navio, e outro duto que vai separar o óleo do gás e transportar o gás através de dutos submarinos novamente para a terra, em Sergipe.

F5 News - Quais outras ações estão sendo articuladas, além do SEAP, para o setor produtivo sergipano? 

José Augusto - Tem outra empresa concorrente da Petrobras que é a ExxonMobil, que está na mesma região, um pouco mais afastada da costa, e que também é uma empresa gigantesca. Apesar de ter iniciado um pouco mais atrasada do que a estatal, está com perspectivas de começar esse ano a furar poços. A Petrobras está muito comedida nos seus investimentos, e isso não é uma crítica, porque tem mesmo que colocar o seu chapéu onde a mão alcança, mas talvez a Exxon tenha uma capacidade de destino maior. Quando eles começarem a furar, se eles contratarem duas ou três sondas, vão chegar junto da Petrobras daqui a cinco anos, e isso para o nosso estado é o melhor dos mundos, porque certamente vão compartilhar os dutos, a estação de tratamento de gás.

O estado precisa e torce por isso. Além disso, depois da chegada do gás da Petrobras Águas Profundas, após cinco anos, poderemos ter uma nova Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados em Sergipe. Eu não tenho dúvidas de que aqui seria o lugar mais adequado possível para a instalação de uma nova Fafen, porque o gás vai chegar na porta de onde construiremos a nova fábrica. A região de Matopiba, que é ao oeste de Sergipe, será uma grande consumidora de fertilizante. Não tem porque fabricar esse fertilizante longe dessa região. Certamente, Sergipe teria um atrativo natural para fornecer esses fertilizantes para essa região. Há essa possibilidade, porém, é uma visão de longo prazo. 

Torcemos também que a partir de dois anos do anúncio da chegada do gás, empresas que vão consumir esse combustível comecem a se instalar em Sergipe. 
 

Edição de texto: Monica Pintosh
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