Atrativo turístico, Lagoa dos Tambaquis recebe ações para controle biológico
Peixamento anual tem como objetivo a prevenção da esquistossomose Cotidiano | Por Aline Aragão 20/02/2021 10h00A lagoa dos tambaquis, no município de Estância, se tornou uma das atrações turísticas mais visitadas no litoral Sul sergipano. As águas mornas, calmas e cristalinas agradam os frequentadores, mas o que mais impressiona no local é a espécie em foco, os tambaquis. No início da semana, a informação de que haveria um surto de esquistossomose na região preocupou moradores e turistas.
Para o guia de turismo Sebastião Carvalho, a informação é preocupante, mas ele acredita que não passa de boato, já que visita o lugar com frequência e não ouviu falar sobre o assunto. "A gente sabe que no começo da lagoa teve mesmo, mas isso acabou e agora está tudo tranquilo por aqui", diz.
A informação ganhou força depois que a Secretaria Estadual da Saúde (SES) divulgou a situação da esquistossomose no estado, que é dos primeiros na prevalência da doença no pais. Segundo a pasta, Sergipe possui 51 municípios endêmicos e em 2020 foram contabilizados 2.094 casos da doença e 26 mortes.
Por meio de nota, a Prefeitura de Estância afirmou que o setor de Endemias realiza inspeções epidemiológicas nas regiões endêmicas para a esquistossomose rotineiramente. Nessas visitas, os agentes realizam busca ativas de acordo com as normas do Programa de Controle da Esquistossomose do Ministério da Saúde (PCE). Disse ainda que a Coordenação de Vigilância Epidemiológica realizou duas visitas, nesta semana, em diversos pontos da lagoa, uma no dia 16 e outra nesta sexta-feira (18).
A nota diz ainda que, ao contrário do que tem circulado em mensagens nas redes sociais, a Atenção Básica de Estância não registrou nenhum aumento de casos da doença no município.
"A administração municipal reitera que preza pela saúde pública e repudia a divulgação de informações infundadas a respeito da região da lagoa, uma vez que estas causam grande impacto em função de toda a comunidade que sobrevive daquele espaço", diz a nota.
Segundo a coordenadora de Endemias do município, Fernanda Assunção, o povoado onde está localizada a lagoa tem uma prevalência entre 5% e 7% para a esquistossomose, o que é considerado nível baixo. Ela também falou sobre as medidas preventivas."Além da pesquisa malacológica, que consiste na busca ativa do caramujo no local, também realizamos exames na população. As amostras para os exames parasitológicos são coletadas na própria residência dos moradores. Outra medida é o peixamento anual, para renovar a população e manter o controle biológico", afirma.
Segundo Fernanda, o peixamento é realizado anualmente em parceria com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). O primeiro de 2021 ocorreu no último dia 11, quando foram soltos na lagoa 50 mil alevinos, desenvolvidos na Estação de Piscicultura Betume, no município de Neópolis.
O F5 News apurou também que em outubro do ano passado a Codevasf realizou um peixamento na lagoa, e ao invés de alevinos, foram soltos cerca de 500 espécimes adultos do peixe. A utilização do tambaqui para o controle biológico do caramujo é o método mais indicado, por ser de pouco impacto ambiental.
Na época, o chefe substituto do Centro Integrado de Betume, Fábio dos Santos, afirmou que os tambaquis que já habitam a lagoa estavam acostumados à alimentação com ração, que é oferecida pelos turistas e, por isso, foi necessário esse repovoamento com novos adultos. "Com peixes adultos o índice de perda é praticamente nulo e o resultado é imediato”, disse.
A Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), principal órgão ambiental do Estado, também faz testes de balneabilidade com frequência. O último, realizado no dia 10 de fevereiro, apresentou resultado satisfatório e indica que o local é proprio para banho.
Sobre a lagoa
Formada por minadouros e água da chuva, a Lagoa dos Tambaquis teve visitação crescente desde o início dos anos 2000. Na época, os principais frequentadores eram moradores da região, e veranistas que se hospedavam nas praias da Caueira, em Itaporanga d´Ajuda; Abais e Saco, em Estância. A presença de caramujos, hospedeiros da esquistossoma, causador da esquistossomose, fez com que medidas urgentes fossem adotadas para prevenir a doença.Segundo o empresário Gildo de Araújo, que tem um estabelecimento no local, o primeiro peixamento ocorreu em 2002, e o problema com o caramujo foi resolvido. Hoje, os tambaquis chamam atenção pelo tamanho, alguns chegam a pesar mais de 10 quilos, e pelo comportamento dócil. A pesca é proibida.
De lá para cá muita coisa mudou. Há cerca de 20 anos, seu Gildo era um dos poucos a investir no local, mas ao longo de duas décadas, a exploração do potencial turístico trouxe estabelecimentos modernos e com infraestrutura para receber turistas que chegam de várias partes do mundo.
"Aqui eu já recebi gente de todo o país, mas também dos Estados Unidos, Itália, Alemanha, França, Japão e muitos outros, vem gente de todo lugar", comemora seu Gildo.
O turista de Minas Gerais Robson Estevão disse que buscava um contato próximo com a natureza, mas não fazia ideia de como era a lagoa.
"Isso aqui é fantástico, nunca vi nada igual, nunca imaginei chegar tão perto assim de um peixe desse tamanho", relata.
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