Autismo: conhecimento desmistifica características do transtorno
Conheça os mitos e verdades sobre o transtorno que afeta cerca de 2 milhões de brasileiros Cotidiano | Por Fernanda Araujo 02/04/2019 06h14Receber a notícia de que o filho tem autismo não é fácil para a maioria dos pais, que tendem a se sentir despreparados para o convívio que vem pela frente. É nesse momento que a família se depara com seus próprios preconceitos, que poderão caminhar para a rejeição ou para a aceitação. Enxergar e entender as particularidades da criança autista é sempre um desafio e requer a compreensão de que o conhecimento sobre esse transtorno pode proporcionar a quebra de estereótipos, além de oferecer melhor qualidade de vida.
O autismo é um transtorno a partir de alterações no desenvolvimento do cérebro que se dá durante a gestação, afetando a comunicação, a capacidade de aprendizado, interação social e a adaptação da pessoa que apresenta um isolamento mental. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi identificado na década de 40, mas ainda é de difícil diagnóstico devido à diversidade e severidade dos sintomas e por conta do escasso conhecimento que a sociedade tem a respeito, o que leva muitas pessoas a olhar com estranheza os portadores dessa condição.
Entre os mitos, consta a crença segundo a qual toda criança autista é agressiva ou grita por falta de educação. Segundo especialistas, associar o autismo a uma conduta obrigatoriamente agressiva é errado. O que acontece é que alguns autistas, especialmente crianças, têm tolerância mais baixa à frustração e a externam em episódios de raiva – assim como algumas crianças não autistas. A reação dos gritos está associada a dificuldade deles em se expressar e à intolerância a ambientes não familiares e que oferecem muitos estímulos. Comportamentos que podem ser controlados através da paciência e a partir dos tratamentos.
Para a dona de casa Aline Hipolito, mãe de um menino de 9 anos com espectro autista, a desconfiança que seu filho tinha o transtorno era eminente. Depois dela ler bastante sobre o assunto, algumas características da pessoa com autismo a assustaram antes da criança receber o diagnóstico. “Eu só queria encontrar um médico que dissesse que meu filho tinha qualquer coisa, menos autismo. Aí em pouco tempo a ficha foi caindo e não passei pelo tal do ‘luto’, só queria saber o que eu poderia fazer para ajudar em seu desenvolvimento”, diz ela.
Hygor é o seu primeiro filho e foi planejado. Com apenas onze meses, a fala atrasada e o balbuciar das palavras chamaram a atenção dela. “Com 1 ano comecei a observar que ele não atendia pelo nome, e com um ano e três meses parou de falar. Não interagia e não se importava com outras crianças. Por volta de 1 ano e 4 meses levei à pediatra, contei que desconfiava, mas ela disse que meu filho era muito novo, ainda estava em fase de desenvolvimento e logo estaria falando. Como não vi mudanças e já vinha observando o comportamento, decidi levá-lo para a Neurologista”, relembra.
Cada pessoa autista tem um jeito de ser. Mas as características mais comuns, segundo o Ministério da Saúde, são: ignorar o mundo externo; ter insistência obsessiva em comportamentos repetitivos, com movimento e barulhos repetitivos; adotar elaborados rituais e rotinas; fixações direcionadas e intensas; escassez de expressões faciais e gestos; não olhar diretamente para as pessoas; utilização anormal da linguagem; ansiedade excessiva; não adquirir a fala ou perder a anteriormente adquirida; e boa relação com objetos. No entanto, a presença de alguns sintomas, que podem se apresentar em conjunto ou de forma isolada, não significa que a criança tenha a doença.
“O meu filho não fala, mas conhece letras e palavras, sabe digitar no computador como profissional, já outros falam muito bem mas não conseguem nem ligar um computador. No início ele se autoagredia, andava nas pontas do pés, acordava chorando sem razão aparente, se irritava com facilidade, dificuldade em sair da rotina, sensível a algumas texturas. Hoje em dia ele já não é mais assim, ainda gosta muito de rotina, mas quando é necessário explico antes o que vai acontecer, muito impulsivo e insistente quando quer algo”, explica Aline.
O motorista José Leonardo Fabião, pai de um menino também de 9 anos, conta que com um ano de idade ele parou de falar e foi levado a especialistas que detectaram o transtorno. Para não cair em mitos, conhecer sobre o autismo, segundo ele, foi importante para aprender a lidar com a situação.
“A mãe já trabalhava na área de saúde com autistas e com isso eu comecei a entendê-lo, a perceber que ele tinha limitações, coisas que o incomodavam como barulho em excesso. Ele gosta de ficar no computador, acessa internet, não gosta que alguém interrompa. Às vezes fica agitado dentro de casa, tem dependência grande da mãe, não consegue ficar sem ela por perto. Fora isso, na rua ele é uma criança tranquila, gosta de praia, se sente mais à vontade na rua. Ele ainda tem limitações com crianças, mas se elas estiverem dentro da piscina aí ele interage”, conta Leonardo. Hoje, o pequeno já sabe ler e escrever e estuda em escola regular com profissionais capacitados.
Mitos e verdades
Autista gosta de carinho (verdade): Os autistas também precisam se sentir acolhidos e amados. Em alguns casos, o contato físico pode ser extremamente desconfortável e o autista pode não suportar carinhos ou abraços, o que não significa que a pessoa não queira receber. Outros autistas, ao contrário, procuram gestos de afeto que podem, no entanto, ser indiscriminado, exagerados com estranhos na rua – este sintoma associado à síndrome de Rett, que é uma variação do autismo.
Autismo é vinculado à forma de criação (mito): As causas que provocam o transtorno ainda não são totalmente esclarecidas. No entanto, já foram descartadas teorias de que a doença é decorrente da frigidez da mãe ou da ausência do pai. Estudos apontam que o transtorno tem causas genéticas, que podem acontecer espontaneamente ou herdado; acontece por combinação de diferentes genes ou ainda por fatores ambientais, como stress, infecções, exposição a substâncias químicas tóxicas, complicações durante a gravidez e desequilíbrios metabólicos.
Crianças autistas podem estudar em escola regular (verdade): A orientação é que crianças autistas estudem em escolas regulares para que tenham o convívio e aprendam com outros alunos comuns, e que as unidades tenham profissionais multidisciplinares capacitados para receber essa criança. No entanto, famílias ainda enfrentam o problema de achar escolas com profissionais preparados para esse fim. Outra dificuldade é a adaptação da criança autista nas escolas, muitas vezes devido à sensibilidade ao barulho.
Autistas precisam viver em ambiente especial (mito): Instituições especializadas podem auxiliar no processo de desenvolvimento da criança, mas não deve ser o único. Especialistas indicam que o convívio com pessoas comuns são importantes para a pessoa autista. Internamento, por exemplo, não é a solução. Existem exemplos de pessoas autistas que frequentam escolas, universidades e desenvolvem atividades profissionais, como Temple Grandin, Donna Williams e Jim Sinclair, que se tornaram internacionalmente conhecidos por seus escritos relatando o processo de recuperação do autismo.
Sintomas do autismo podem ser amenizados (verdade): Não tem cura, mas existem uma variedade de terapias que podem amenizar os sintomas. No entanto, o tratamento é individualizado e os pacientes respondem de forma particular. Segundo o Ministério da Saúde, o que importa, para fins terapêuticos, não é que a criança apresente este ou aquele sintoma, mas sim, se ela está impossibilitada de se relacionar ou não.
São terapias a: Psicoterapia, Aloterapia, Musicoterapia, tratamento com medicamentos, Fonoaudiologia, ludoterapia, Terapia ocupacional, Oficinas Terapêuticas para adultos, Equoterapia, Hipoterapia, além do tratamento médico de pediatria, clÍnica geral e odontologia quando o paciente apresenta o ranger dos dentes, também chamado de bruxismo. O MS diz ainda que os autistas não devem ser sobrecarregados com uma maratona de tratamentos, o melhor resultado será obtido na medida em que puder conciliar as necessidades do autista com as da família.
Segundo o Ministério da Saúde, a família não deve abrir mão de seu lazer, do bem-estar e de seus limites, tratando-os normalmente como membros da família. Pais ou responsáveis devem procurar ajuda para esclarecimentos com especialistas, pois quanto mais cedo se instituir um tratamento adequado, melhor o prognóstico.


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