Trânsito
Ciclistas aracajuanos cobram promessas de Edvaldo para mobilidade
Problemas na rede cicloviária da capital afastam usuários e podem custar vidas
Cotidiano | Por Fernanda Araujo e Will Rodriguez 17/01/2019 14h47 - Atualizado em 17/01/2019 15h23

Com alta no preço de combustíveis e do transporte coletivo, andar sobre duas rodas tem sido a alternativa para muitas pessoas em seus deslocamentos diários. A bicicleta, um meio sustentável, se tornou a aliada de quem quer fugir do engarrafamento, dos altos custos de veículos motorizados, do estresse no trânsito e também para aqueles que se preocupam mais com o meio ambiente.

E quem se encaixa nesse perfil é o ilustrador Maicon Rodrigues, que saiu de Itabaiana, no agreste sergipano, para morar em Aracaju há pouco mais de quatro anos. Na capital, ele começou a usar a bike de forma esporádica, associada ao serviço do transporte público, que classificou como “péssimo”. Hoje, a bicicleta é seu único meio de transporte para tudo. “Me identifiquei por ser algo barato, simples e sustentável. Bike é algo revolucionário, libertador e um ato de resistência nos dias de hoje”, diz.

No entanto, essa escolha também apresenta dificuldades para os ciclistas, quando ainda existe a falta de uma política de incentivo ao modal. A truculência e desrespeito de motoristas, vias com ausência de ciclovias ou com estas deterioradas e estreitas, são alguns destes obstáculos.

“A rede cicloviária timidamente sofreu alguma expansão e as que foram posteriormente implementadas apresentavam inúmeras falhas de projetos e materiais construtivos de baixíssima qualidade, que tornam estes caminhos ‘desatraentes’ e inseguros para as pessoas em bicicleta”, afirma a presidente da ONG Ciclo Urbano, Sayuri Dantas.

Em algumas das situações enfrentadas pelo ciclista, ele cita as ciclovias das avenidas Beira Mar, Tancredo Neves, e no bairro Coroa do Meio.

“As placas da ciclovia da Beira Mar dilatam e formam obstáculos, furando pneus ou empenando as rodas, provocando desequilíbrio seguido de quedas. Obras de reparo das vias que obstruem e alteram a ciclovia abrindo buracos e consertando de maneira inadequada. Na ciclovia que margeia o mangue na Coroa do Meio, a extensão dos quebra-molas invade a ciclovia de modo que mais parecem uma lombada alta, se tornando verdadeiros obstáculos, além de muitas vezes eu já ter presenciado carros estacionados nesta ciclovia. Na Tancredo, o acesso às ciclovias é destruído, podendo inclusive causar acidentes, em alguns casos fatais. Basta olhar pelas ruas quantas Ghost Bikes foram instaladas pela cidade”, relata Maicon.

Em um vídeo publicado pela ONG Ciclo Urbano em rede social, esta semana, foi registrado uma tentativa de travessia de duas pessoas em bicicleta na Tancredo Neves. O trecho apresenta um semáforo desligado, iluminação precária e a ausência de faixas de travessia.

“Um dos maiores problemas das ciclovias de Aracaju é a dificuldade de acessá-las. Ciclovias em canteiros centrais, muito estreitas, entre vias que permitem altas velocidades para motoristas. Como sair e entrar nessas ciclovias? Viadutos, passarelas, vias largas para veículos motorizados, altas velocidades, semáforos desligados, barulhos de motores, vias escuras, calçadas e ciclovias espremidas”, postou a ONG.

E a inércia dos gestores custa vidas. Em 2017, segundo levantamento da Ciclo Urbano, houve um recorde no registro de ciclistas mortos por atropelamento em Aracaju, com 11 vítimas. “Esse é um número altíssimo, e inaceitável, porque também os crimes de trânsito não devem ser vistos como naturais. Esse fato é consequência do descaso com que a mobilidade por bicicleta tem sido tratada”, diz Sayuri Dantas.

Enquanto isso, os ciclistas ainda esperam pelo cumprimento da promessa de que seriam realizadas ações que previam a implantação do Plano de Ciclomobilidade. Em outubro de 2016, o prefeito Edvaldo Nogueira, em campanha, assinou uma carta de compromisso na qual são estabelecidas ações de incentivo à ciclomobilidade na capital sergipana. De lá para cá, segundo a Ciclo Urbano, nada mudou.

Entre as ações foram listadas:

- Implantar um “Plano de Ciclomobilidade” baseado em estudos e pesquisas, com metas bianuais para: aumento da quilometragem de infraestrutura (ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas);

- Manutenção e monitoramento da malha cicloviária; instalação de paraciclos nas praças, parques, centro histórico comercial, edifícios públicos e ao longo da rede cicloviária com distância de até 300m;

- Instalação de estações de manutenção básica (com bomba de ar e ferramentas);

-Elaboração de um cronograma das atividades, que deverá ser publicado semestralmente no site do órgão competente pela tarefa;

- E ampliação do Projeto Cajubike (80 novas estações até 2021) para além dos pontos de interesse turístico, passando a fazer parte do plano de mobilidade urbana da cidade de Aracaju, como, por exemplo, implantando-os próximos aos terminais de integração e pontos de ônibus com grande quantidade de usuários.

Ao F5 News, o prefeito Edvaldo Nogueira (PCdoB) disse que ainda tem dois anos de gestão pela frente para cumprir as promessas de campanha e garantiu que o incentivo ao modal está na rota do seu plano de governo.

Já a Secretaria da Comunicação da PMA informou que, desde janeiro de 2017, recuperou alguns trechos de ciclovia, como na avenida Santa Gleide, e construiu novos, como na avenida Canal 4, no conjunto Augusto Franco, e no bairro 17 de Março.

A Prefeitura diz que fez um levantamento em toda a faixa cicloviária da capital sobre as condições estruturais, os serviços de revitalização necessários em cada trecho e, agora, está em fase de captação de recursos para execução dos serviços.

A gestão cita ainda a criação da Área de Proteção para a Prática do Ciclismo três dias por semana, na Avenida Santos Dumont, e realização de dois passeios ciclísticos anuais para a promoção do modal na cidade.

“Contudo, a PMA reconhece que ainda há muito a ser feito para melhorar a rotina de quem usa a bicicleta para se deslocar por Aracaju, mas reforça que a atual administração está na metade do mandato popular que lhe foi conferido, que foi necessário demandar tempo e recursos para reorganizar os fluxos administrativo e financeiro do órgão responsável pela mobilidade urbana e que vai dialogar com a sociedade civil sobre a política cicloviária para os próximos dois anos”, completa a nota da gestão.

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