Crianças do Santa Maria eram neglicenciadas pela mãe, diz DHPP
Irmãos sofriam maus tratos e teriam sido mortos pelo padrasto
Cotidiano | Por Fernanda Araujo 18/11/2019 12h00 - Atualizado em 18/11/2019 16h25

A Polícia Civil afirma não ter dúvidas quanto à autoria do padrasto e à participação da mãe no homicídio das duas crianças encontradas na lagoa do Areal, no bairro Santa Maria, em Aracaju. A prisão temporária de 30 dias, mesmo prazo para conclusão do inquérito, foi decretada na última quinta-feira (14) diante das contradições nos depoimentos dos suspeitos. Segundo a Polícia, a mãe das crianças atribuiu o crime ao atual companheiro, que deve prestar novo depoimento.

O crime aconteceu na manhã de quarta-feira (6) no mesmo local onde Mikael Allan Santos da Cunha, 6, e Sara Yasmin dos Santos Gomes, 10, foram encontrados com politraumatismo e traumatismo craniano há 20 minutos da residência. Após a mãe em depoimentos anteriores ter negado a participação no crime, Juciara Soares dos Santos, 38, alegou ter visto o momento em que Luciano dos Santos Oliveira, 35, levou as crianças pelas mãos em direção à lagoa, e depois a ameaçou para que sustentasse a versão de desaparecimento.

"Ela conta que as 4h da madrugada tinham acordado e eles foram até a lagoa. Ela alega que sentou num barranco e viu quando ele desceu com as crianças. Disse que viu quando as crianças gritaram pelo nome dela e, em seguida, ouviu o barulho dos corpos sendo jogados na lagoa", afirmou o delegado responsável pelo inquérito, Mário Leony, do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP). A Polícia ainda não esclareceu qual instrumento contundente foi usado no crime.

A Polícia destacou ainda que a mãe das crianças havia omitido que no dia do crime, das 9h as 10h40, quando as crianças já estavam mortas, participou de atividade no Caps, onde era assistida por ter diagnóstico de transtorno de ansiedade. "Depois, ela recebeu ligação do companheiro para ir ao Ceasa no bairro Getúlio Vargas e fez uso de cocaína. Chamou atenção que, enquanto as crianças permaneceram "desaparecidas", eles não pediram ajuda a vizinhos mais próximos, ou a familiares, que se surpreenderam quando os corpos foram encontrados. Apenas no dia 7 eles estiveram no Conselho Tutelar para informar do desaparecimento e foram orientados a prestar BO, registrado no DAGV ", disse o delegado. 

O casal tinha relacionamento de um ano, mas convivia há dois meses. Luciano era ex-presidiário e havia recebido liberdade condicional respondendo por roubo e tráfico de drogas. Ambos devem responder pelo duplo homicídio qualificado. Segundo a Polícia, ainda há indícios de que os dois estavam envolvidos em tráfico de drogas e de que a mãe utilizava dinheiro de pensão alimentícia e de benefício de outro filho deficiente em favor do companheiro e do tráfico. A PC não descarta hipótese da participação de outros envolvidos no crime.

Maus tratos

Relatos de testemunhas e de pais biológicos das crianças, segundo a Polícia, corroboraram as denúncias de violências físicas, verbais e psicológicas, além de negligência e ameaças de morte que os irmãos sofriam, principalmente a menina que, segundo a Polícia, fugia de casa.

Segundo os depoimentos, comumente as crianças eram deixadas dentro de casa sozinhas ou eram vistas transitando no bairro sem adulto responsável. Não foram confirmadas agressões sexuais contra as crianças, no entanto, a polícia não descarta a possibilidade. "A gente verifica que como já havia denúncias contra ela, as crianças se tornaram um 'estorvo' para esse casal porque ela não queria compromisso com essas crianças", relata Leony. 

Ainda segundo a PC, o ConselhoTutelar acompanhava a família e havia denúncias anônimas datadas desde a primeira quinzena de outubro. "As crianças foram incluídas em assistência e a mãe recebeu advertência; essas crianças não foram colocadas em abrigo e não houve pedido de guarda. O Conselho não conseguiu naquele momento inicial reunir provas mais substanciais dessas denúncias. A Juciara ainda omitiu o paradeiro dos pais biológicos das crianças, então houve também dificuldade por parte do Conselho de localizar os pais", ressaltou o delegado. 

Um outro caso que chamou a atenção da polícia pela coincidência foi o quinto filho da mulher, de três anos, que morreu há nove anos, vítima de afogamento em um poço no povoado Pitanga, em São Cristóvão, divisa com o bairro Santa Maria. A Polícia revisitou o inquérito e não descarta a possibilidade de que seja reaberto. 

"A dúvida que paira é em que circunstâncias o afogamento aconteceu. O inquérito à época não a responsabilizou por esse fato, mas entendemos que houve no mínimo negligência. A depender da evolução das investigações pode ser que o inquérito seja reaberto, inclusive familiares dessa criança serão ouvidos também", acrescentou o delegado.

A Polícia vai continuar as investigações para tentar converter a prisão e para esclarecer contradições nos depoimentos. Imagens de câmeras na região devem ser avaliadas,  perícias e reprodução simulada do crime serão requisitadas. Testemunhas também devem ser ouvidas.

 

Foto: Fernanda Araujo/F5 News

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