“Tal pai, tal filho”. O dito popular é antigo, emblemático de um passado no qual se atribuía à figura paterna total responsabilidade pelos caminhos das respectivas proles – tanto nos parâmetros idealizados de sucesso, quanto pelos erros e fracassos na leitura da moral vigente.

A evolução de costumes e no respeito à individualidade tornou mais rara a imposição de trajetórias profissionais aos filhos, por parte de seus pais, como foi usual há poucas décadas. Hoje, felizmente, há maior liberdade e diálogo e homens e mulheres que abraçam as carreiras com as quais tiveram contato via figura paterna o fazem por desejo, inspirados pelo testemunho de vivências felizes e circunstancialmente afeitos às mesmas áreas de atuação.

É o caso, por exemplo, do músico Mestrinho, filho do sanfoneiro Erivaldo de Carira.

De sangue nordestino, e com a sergipanidade correndo nas veias, durante uma apresentação cultural realizada durante os festejos juninos de Aracaju este ano milhares de forrozeiros puderam presenciar um momento ímpar entre pai e filho, um exemplo feliz de cumplicidade existencial.

Hoje com 30 anos de idade, Mestrinho conquistou palcos internacionais reafirmando o talento para se apresentar com artistas como Dominguinhos, Elba Ramalho, Gilberto Gil e Ivete Sangalo. “Meu pai é o meu ídolo. Toda a minha base musical, educacional e cidadã eu aprendi com ele e com minha mãe”, relata.

Sobre se apresentar com o pai, ele analisa que se torna um momento de mostrar a um grupo maior de pessoas o quão importante é valorizar as raízes familiares. “Meu pai sempre me inspira. Já compomos canções juntos, fizemos forró no quintal de casa, mas é impossível subir ao palco com ele e não reverenciá-lo. Não houve pressão para que eu seguisse a mesma profissão, as coisas ocorreram naturalmente”, afirmou.

Referência – Em dose tripla, a família do militar Douglas mostra bem como a trajetória inspiradora de pais para filhos pode ser poderosa. Tendo o pai, Adilson França, como referência ética profissional, Douglas e o irmão gêmeo, Dhiego, decidiram se candidatar ao concurso público de 2014 para a Polícia Militar de Sergipe e obtiveram êxito. Além de admirar a profissão, ele não poupa elogios ao pai.

“Um cidadão de honra, com mais de 30 anos de carreira que nos ensinou com

postura firme e respeitosa a lidar com as pessoas. Recordo-me da infância quando amigos do meu pai sempre me disseram que ele se tratava um profissional exemplar. Somos fãs dele, por isso não tinha como escolher outra profissão”, declarou.

Apesar de concursado, Douglas garante que as orientações continuam. “Não param. Sempre nos orienta justamente pela experiência que possui. Ele é o nosso espelho, nosso guru, e não tem como negar. Não tem como não se lembrar do meu pai toda vez que estou fardado”, disse.

Reflexo – A psicóloga Hana Sanders, que trabalha com orientação profissional, em entrevista ao portal G1, defende que o apoio dos pais aos filhos venha desde o começo da idade escolar. “É instigar, desde criança, desde novo. Os pais chegam e querem dar a responsabilidade para um aluno de 18 anos sem nunca ter dado suporte emocional, suporte de segurança para o filho”, relatou a psicóloga escolar. Para a profissional, é preciso compreender o significado do momento da escolha, sem uma pressão excessiva sobre o estudante.