Com o objetivo de discutir o cultivo de sementes crioulas e incentivar o seu fomento, acontece em nove estados brasileiros o Encontro Estadual de Sementes do Semiárido, que tem como proposta evidenciar os benefícios de alimentos saudáveis, sem a contaminação de transgênicos ou agrotóxicos. Em Sergipe, cerca de 800 pessoas participam diretamente do manejo e cultivo da variedade crioula nas 40 casas de sementes existentes.

Fotos: Débora Melo/ Assessoria de Imprensa

Esse tipo de semente é uma variedade desenvolvida, adaptada ou produzida por agricultores familiares, assentados da reforma agrária, quilombolas ou indígenas. Passadas de geração em geração, essas sementes carregam a história de comunidades inteiras, geram renda aos agricultores familiares e levam à mesa da população alimentos socialmente responsáveis e saudáveis.

Em um espaço de muita disputa e conflitos entre esse tipo de cultivo e o agronegócio, o coordenador da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) em Sergipe, João Alexandre de Freitas, ressalta que o caminho deve ser trilhado com cuidado. "Temos dificuldades em fazer com que políticas públicas possam ser viabilizadas para que a ecologia e as sementes crioulas possam dar continuidade e possam ser implementadas", disse.

Outra dificuldade apontada são com os programas dos governos, que por muitas vezes compram sementes oriundas de outros estados e não dos agricultores locais. "Nossa discussão com o governo é bem específica, devemos buscar que os governos entendam isso, e em vez de comprar sementes trangênicas ou melhoradas de forma homogênea, busquem comprar sementes dos agricultores locais e repassem aos que não tem", afirmou o coordenador nacional da ASA, Alexandre Pires.

Os especialistas presentes no evento afirmaram que não existe solo específico para o cultivo, os solos de cada estado do semiárido recebem as suas sementes específicas para o plantio do alimento.

A maior parte dos agricultores já faz o cultivo das sementes crioulas e está sendo inserida no programa Sementes do Semiárido gradualmente. Ao todo, são contabilizados aproximadamente mil casas de sementes, com cerca de 20 mil pessoas atuantes no Brasil.

Sergipe já está na segunda etapa do programa e, por meio dos seus representantes, busca a valorização dos estoques de sementes, pois avaliam que historicamente as famílias perderam seu potencial produtivo após o incentivo do agronegócio.

"Um dos grandes papéis do projeto é fazer esse contraponto e as famílias que perderam suas características, ao longo do processo possam recuperá-los, ficando livres dos agrotóxicos, pois assim a gente entra no âmbito da produção de alimentos saudáveis", disse o coordenador do Programa Sementes do Semiárido e do CDJBC, Alex Ferdele.

Nutrição

Além de já não ter a modificação com agrotóxicos, as sementes naturais deixam raízes e trazem de volta a cultura do agricultor, além de diversos benefícios para quem consome os alimentos provenientes dela. "A importância é extrema para que tenhámos cada vez mais alimentos saudáveis, que carreguem sabor e raiz", afirmou a coordenadora de segurança alimentar e nutricional da Secretaria de Estado da Mulher, Inclusão, Assistência Social e do Trabalho (Seidh), Tatiana Canuto.

* Estagiário sob supervisão da jornalista Fernanda Araujo.