Engraxate: um profissional em vias de extinção
Cotidiano 12/12/2011 15h32

Por Eliene Andrade

Chamado de “Anjo da rua” pelo poeta Rubem Braga, o engraxate, que "cabisbaixo dá brilho aos pés de seus clientes", persiste numa atividade que vem caindo em desuso.  A profissão existe desde o século XIX, no entanto, sua tradição está sob ameaça, já que atende apenas ao gosto de alguns. No centro de Aracaju é possível contar nos dedos das mãos o número de engraxates que, agachados em meio à selva de pedra, tentam tirar alguma renda do ofício.

Os tempos são outros. Hoje quem opta pelo serviço, na sua maioria, são pessoas de mais idade, que mantém o hábito de engraxar os sapatos por apreciarem o lustro só desta forma obtido. Mas há aqueles para quem a atividade passou a ser dispensável, já que os sapatos de couro dividem espaço hoje com uma infinidade de calçados de outros materiais.

Com a correria do dia-a-dia, poucos se dispõem a ficar sentado naqueles banquinhos jogando conversa fora; assim, a profissão só perdura graças aos clientes antigos. É o caso do pecuarista Cardoso que, aos 75 anos, garante: enquanto houver engraxate, ele não fica com os sapatos sujos. Para o pecuarista, o serviço é indispensável e não imagina o mundo sem ele. “Eu não sei ficar com os sapatos sujos e foscos. Gosto mesmo é de andar com brilho nos pés. Tem mais de 10 anos que engraxo os meus, mas se esses profissionais acabarem não sei como será”, brinca.

Aos 30 anos, Jailton Gabriel de Jesus já é uma figura carimbada entre os colegas de profissão. Ele fica no Calçadão (Centro) e é bem concorrido. Com quatro pessoas sentadas aguardando atendimento, Jailton conta quando começou com o trabalho, enquanto engraxa um sapato.

“Eu morei na rua e, aos 11 anos, conheci um engraxate que ficava próximo a uma farmácia aqui perto. Como eu tinha que me virar pedi que ele me ensinasse o ofício. Ele está morto agora, mas graças a ele, que além de me ensinar me deu uma caixa para engraxar, sou uma pessoa realizada. Hoje pago meu aluguel e sustento meus três filhos e esposa com a renda que faço aqui”, contou Jailton, que chega a lucrar R$ 40 por dia.

Já Josemir de Souza acredita que as pessoas raramente percebem sua importância, mas garante que isso não o atinge. Questionado sobre a diminuição da concorrência nas ruas, ele explica que muitos traficantes utilizam do ofício para vender drogas, mas que, com as revistas da polícia, muitos deixaram “a profissão” de lado. “Eu gosto do que faço e não me vejo fazendo outra coisa. As pessoas às vezes não nos percebem, mas existimos e somos trabalhadores também”, diz.

A profissão

“Engraxate é responsável pelo polimento e limpeza de sapatos. A profissão teve início no ano de 1806, quando um operário poliu em sinal de respeito as botas de um general francês e foi recompensado com uma moeda de ouro por isto. Durante a Segunda Guerra Mundial apareceram os “sciusciàs”, garotos que, para ganhar qualquer coisa, lustravam as botas dos militares, além de terem cópias de jornais, goma de mascar e doces à disposição desta clientela.

Ao término da guerra desapareceram o sciusciàs e também os engraxates de Nápoles. No início dos anos 50, eles eram apenas mil. Após a imigração italiana aparecem, por volta de 1877, na cidade de São Paulo, os primeiros engraxates. No início eram poucos, de 10 a 14 anos, todos italianos e percorriam as ruas, das 6 horas da manhã até a noite, com uma pequena caixa de madeira com suas latas, escovas e outros objetos. As cadeiras de engraxate foram inventadas por Morris N. Kohn em 1890. 

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