Aracaju não tem lá um dos piores trânsitos do país, mas nas últimas semanas até mesmo em horários que não são considerados de pico, se deslocar pela cidade tem sido um verdadeiro teste de paciência. Uma série de obras executadas pela Prefeitura, quase que simultaneamente, em vias importantes e no horário comercial, está deixando o fluxo dos veículos travado, uma dor de cabeça a mais para quem anda no transporte público, de carro ou moto. 

Um dos trechos em obras na Avenida Beira-mar (Foto: Humberto Alves/F5 News)

Embora não sejam oficialmente classificadas como vias expressas, as avenidas onde os serviços estão sendo realizados desempenham essa função de unir regiões e, por isso, ainda que o motorista busque rotas alternativas, mais cedo ou mais tarde vai acabar desembocando em algumas delas. E é aí que começa o problema. Os pontos de retenção e engarrafamento são inevitáveis. 

As obras concentram-se na avenida Beira-Mar, uma das principais ligações entre a zona sul e o centro; na Euclides Figueiredo, entre a zona norte e o centro, e na Nova Saneamento, interbairros.

Confira abaixo um mapa elaborado pelo F5 News que mostra onde existem obras da administração municipal no trânsito, o que está sendo feito e a previsão de conclusão. 

Nesse vai-e-vem, uma pergunta ronda a cabeça dos aracajuanos: a decisão do prefeito Edvaldo Nogueira (PCdoB) em assinar ordens de serviços para obras necessárias em áreas vitais do trânsito quase que ao mesmo tempo foi a mais acertada? F5 News buscou respostas ouvindo especialistas em trânsito e desenvolvimento urbano. 

Para o engenheiro especialista em engenharia de tráfego Nelson Felipe, que já respondeu pela Superintência de Trânsito da capital, não. Dar início a frentes de trabalho em três das principais vias de escoamento da capital, mesmo sob a justificativa de contenção de gastos, em sua compreensão, é falta de planejamento. 

"É preciso que se coloque na balança o que o gestor leva mais em consideração, se o gasto de 30% a mais, ou a paz e a tranquilidade da sua gente. Realizar obras ao mesmo tempo nessas vias, ao meu ver, só tem duas explicações: ou faltou planejamento no tocante à engenharia de tráfego ou a prefeitura quer mostrar, a duras penas à população, que está trabalhando", afirma Nelson, que é advogado membro da Comissão de Trânsito e Mobilidade da OAB/SE.

A demora para a conclusão das obras, com os períodos de intervalo entre a retirada da camada asfáltica, sua reposição e a sinalização de trânsito na via, é outro ponto questionado. "Obra tem que ser bem sinalizada e isolada para evitar acidentes. Se você vai começar uma obra, é preciso ter recurso assegurado e uma empresa que tenha porte para atender à demanda, além de uma programação e do planejamento de desvios", aponta o especialista em engenharia de tráfego Francisco Navarro. 

Segundo ele, como o sistema viário aracajuano é limitado, a execução de uma obra por vez seria o mais adequado. Além disso, Navarro discorda da alternativa de trabalho noturno. "O mais indicado seria dividir uma avenida em trechos que pudessem ser isolados para que a obra fosse feita sem interrupção e com maior velocidade. Ou ainda atuando preferencialmente aos finais de semana e feriados, porque misturar trânsito e obras é perigoso", diz. 

Para o geógrafo mestre em desenvolvimento Waldson Costa, como a viabilidade orçamentária é uma questão preponderante, a discussão de soluções para atenuar os transtornos dessas obras deveria ser contemplada na elaboração do orçamento. "Apesar de não ser o ideal, é melhor fazer (a obra) do que não fazer, mas o orçamento precisa conter medidas estrurantes para que os impactos sejam minimizados. O complicado é pensar em uma obra 30% mais cara, o que pode gerar a inviabilização do recurso", comenta. 

Waldson, que também é especialista em engenharia de tráfego, levanta a preocupação com o pós-obra. Segundo ele, a melhora da pavimentação deve gerar um consequente aumento da velocidade média nas vias, acendendo o alerta para a segurança do trânsito. "Com isso, no futuro, há probabilidade do aumento de mortes nessas vias. Não se vê, na perspectiva de projeto, nenhuma ação que visa a redução de velocidade dos automóveis", adverte. 

A requalificação asfáltica dessas avenidas objetiva atender à Política Nacional de Mobilidade Urbana, que prevê a estruturação da malha viária das cidades a fim de que o transporte público seja priorizado. Em Aracaju, esse plano inclui a construção de quatro corredores até o final de 2020.

O que diz a Prefeitura 

A gestão municipal respondeu ao F5 News que as obras de recuperação e restauração do pavimento asfáltico visam o melhoramento da mobilidade urbana e são prioritárias. 

"Além de estarem localizadas em diferentes zonas da cidade, as vias contempladas, tanto no Plano de Mobilidade Urbana de Aracaju (Beira Mar), quanto no Programa de Recapeamento Asfáltico (avenidas Francisco Porto e Gonçalo Rollemberg Leite - Nova Saneamento), contam com a atuação de agentes da SMTT, diariamente, para organizar o tráfego de veículos e garantir a segurança dos trabalhadores envolvidos e o direito de ir e vir da população", declarou a PMA. 

Segundo a Prefeitura, a população também é informada previamente sobre os locais que estão passando por obras, e que apresentam lentidão no trânsito, por meio das redes sociais e site da SMTT (www.smttaju.com.br).