Família de idoso que morreu em ambulância diz que vai procurar a Justiça
Depois de morto, o idoso foi submetido a teste para detecção de covid-19 Cotidiano | Por Aline Aragão 16/04/2020 16h26 - Atualizado em 16/04/2020 17h04A família do idoso Roberto Santos, 69, que morreu dentro de uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), na tarde dessa quarta-feira (15), disse hoje (16) que vai entrar com uma ação na Justiça pelo constrangimento e pelo descaso com que supostamente o paciente foi tratado.
Seu Roberto era paciente oncológico, há três anos lutava contra um mieloma múltiplo, um tipo de câncer que afeta os ossos. Segundo a filha dele, Ana Paula, ele passou mal durante a manhã e sem conseguir tirá-lo da cama, ela acionou o Samu por volta das 12h, para que o pai fosse levado ao Hospital de Urgências de Sergipe (Huse), atendendo à recomendação da médica dele, que orientou inclusive a necessidade de realização de alguns exames.
O idoso apresentava também febre e insuficiência respiratória, o que fez com que os médicos socorristas optassem pela Unidade de Pronto Atendimento Nestor Piva, na Zona Norte da capital.
“Quando chegou lá, era uma e pouca, ficamos no pátio do Nestor Piva, com ele dentro da ambulância, porque o Nestor Piva não aceitava”, disse Ana Paula.
Ela diz ainda que esperaram até às 16h, e seu Roberto acabou morrendo dentro da viatura sem receber o atendimento que precisava. Ela relata também que, depois de constatar o óbito, os médicos da Samu resolveram seguir para o necrotério do Huse e, ao chegar lá, mais sufoco, houve demora para receber o corpo.
“Eles chegaram a tirar o meu pai da ambulância e depois devolveram”, lamenta.
Procurada pelo F5 na noite da quarta (15) a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e a coordenadora do Nestor Piva, Jória Dias, informaram que não tinham conhecimento do caso. “Ninguém da equipe de enfermagem, nem os 10 médicos do plantão, têm informação sobre esse paciente”, afirmou a coordenadora.
Hoje, a SMS divulgou uma nota apresentando sua versão do episódio. A nota diz que o paciente chegou à unidade onde foi identificado que necessitava de regulação para um leito de UTI em um hospital de grande porte.
“Lamentamos o ocorrido e prestamos nossos sentimentos à família. No entanto, é preciso frisar que por lei, Aracaju é responsável pelos atendimentos de baixa e média complexidades. Recebemos os nossos pacientes pelas redes de urgência e emergência, os estabilizamos e, caso haja necessidade de UTI, encaminhamos, via central de regulação estadual, para as unidades de referência do Estado”, destacou o secretário-adjunto da Saúde de Aracaju, Carlos Noronha.
A nota diz ainda que o paciente chegou ao Nestor Piva com tosse e insuficiência respiratória, com indicação para intubação. “Ou seja, era um paciente com um quadro extremamente grave. O Nestor Piva não possui capacidade instalada para este tipo de atendimento e os leitos de estabilização estavam ocupados. Esse paciente tinha indicação de UTI e já teria que ser removido diretamente para uma unidade adequada. A gravidade do quadro fica ainda mais evidente quando olhamos o histórico dele: um paciente oncológico com sinais de alguma patologia respiratória, não necessariamente a covid-19, que descompensou o seu quadro clínico e favoreceu o óbito, que a ocorrer dentro da ambulância”, afirmou Noronha, reforçando que a necessidade do paciente era de um leito de UTI
A Secretaria de Estado da Saúde (SES) também divulgou uma nota na qual afirma que a Central de Regulação de Urgência (CRU) “foi acionada para prestar atendimento a um idoso de 69 anos, oncológico”. E que, de acordo com informações repassadas pela família à CRU, o paciente também apresentava problemas respiratórios e febre, sintomas que poderiam identificar um caso de Covid-19.
A CRU acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que encaminhou para a ocorrência uma Unidade de Suporte Avançado (USA). “A orientação foi para levar o paciente ao Hospital Nestor Piva, devido à proximidade da sua residência. E a informação foi que a unidade não poderia recebê-lo por não ter disponível leito de isolamento. Foi feita a tentativa de acesso no Hospital Fernando Franco, onde também foi informado que não tinha leito naquele momento”, prossegue a nota.
“Com o quadro de saúde agravado, o paciente precisou ser entubado dentro da viatura do SAMU, onde acabou vindo a óbito. Por ser um paciente suspeito para o Covid-19, e ser do grupo de risco, o corpo foi recolhido para o necrotério do Huse, onde será feita a coleta de amostras para a realização de testes”.
A família diz que independentemente do resultado do exame, esperado para sair ainda hoje, vai levar o caso à Justiça.





