Feminismo em Sergipe está desperto, mas ainda há espaço para crescer
Ativistas atuantes em diferentes campos mantém pautas em busca da equidade
Cotidiano | Por Victória Valverde* 08/01/2019 07h00 - Atualizado em 09/01/2019 18h15

Há milênios a cultura de sujeição da mulher vem sendo construída através de mitos, preconceitos e estereótipos. De uns anos para cá, a palavra feminismo vem sendo muito usada, seja com uma conotação positiva ou negativa.

Independente de como ou do porquê, o movimento caiu na boca do povo e sua luta contra a cultura de opressão enraizada na memória coletiva está mais forte do que nunca.

Com a autorização do primeiro voto feminino, em 1928; e a criação da Lei Maria da Penha, em 2006; o movimento feminista no Brasil vem colecionando pequenas e grandes vitórias, mas ainda se mantêm presente e necessário.

Em Sergipe, menor estado brasileiro, os movimentos sociais de mulheres tiveram grande impulso, principalmente na última década. Segundo Adélia Pessoa (foto), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da OAB/SE, a questão da mulher não pode mais ficar de fora de qualquer pauta de partidos políticos, de instituições públicas ou privadas.

“Acreditamos que o caminho está na implementação de ações e campanhas educativas de prevenção; inclusão da temática de maneira transversal nas escolas, em todos os níveis; no fortalecimento das redes de atendimento; na capacitação de profissionais da rede; no conhecimento e aplicação da Lei Maria da Penha e na constante realização de pesquisas e atualizações sobre a matéria”, enfatiza.

Ainda segundo Adélia Pessoa, a OAB, em parceria com várias instituições, promove todo ano “Fóruns de pesquisa de gênero”, com o objetivo de dar visibilidade às pesquisas científicas desenvolvidas na área - uma das ações do órgão que dá visibilidade à questão da mulher. 

Empreendedoras e Informadas

Com a disseminação das pautas feministas, a noção de que a mulher foi feita para ficar em casa enquanto o homem trabalha é considerada ultrapassada. Apesar disso, a desigualdade de gênero no mercado de trabalho persiste.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a taxa de desemprego de mulheres em 2018 foi de 13,2%. Já para os homens representa 9,8%.

Em resposta a essa realidade, nasceu o Coletivo Panapanã, com o objetivo de empoderar as empreendedoras sergipanas. Com início em junho de 2018, a organização tem com principal objetivo apoiar a produção artística e artesanal local feminina, através da exposição dos produtos e debates dos temas.

“Acreditamos que o cenário feminista em Sergipe tem se mostrado cada vez mais forte, mas ainda há muito que se caminhar nesse sentido. Queremos criar espaços que possam gerar renda para mulheres artesãs e gerar empoderamento e autonomia”, disse uma das representantes do coletivo, que prefere não ser identificada para não estabelecer qualquer hierarquia no grupo.

Em dezembro passado foi realizada a primeira feirinha do coletivo, onde mais de 30 artesãs sergipanas exibiram seus produtos.

Também com a missão de empoderar as mulheres, só que dessa vez no viés literário, encontra-se o clube de livro “As Virginias” (foto). Nele, é lido e discutido um livro por mês, sempre com uma ótica feminista.

 Alguns dos títulos que já foram trabalhados são: “As Meninas”, de Lygia Fagundes Telles, “The Hate U Give” de Angie Thomas, e “Como as Democracias Morrem”, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt.

“No início era só um grupo de mulheres que queriam ler mais. Mas, mulheres juntas lendo, discutindo livros e trazendo suas experiências para a roda é muito mais do que um clube do livro, é uma troca muito importante e acolhedora”, disse a criadora do clube, Luísa Chagas.

Novo feminismo

O feminismo do século 21, chamado de novo feminismo, além de se preocupar com a questão de gênero, adiciona a essa problemática recortes de classe, raça e sexualidade. Em Sergipe, uma das participantes deste novo feminismo que mais vem ganhando destaque em Sergipe é a ativista trans Linda Brasil (foto).

Linda teve seu primeiro contato com o feminismo em 2013, na Universidade Federal de Sergipe, ao ter sofrido resistência na aceitação do seu nome social. A partir daí a ativista começou a conhecer e a estudar sobre o movimento, em especial sobre o feminismo trans.

Através do seu apoio à coletivos feministas – Linda foi a primeira trans a ingressar em um coletivo feminista em Sergipe ao entrar para o “Mulheres de Aracaju” – e da fundação da CasAmor, que acolhe indivíduos LGBT em situação de vulnerabilidade, ela mostra-se presente na luta feminista e LGBT, já que a ativista reforça o fato de que, juntos, os dois movimentos são mais fortes.

 “Estamos ocupando espaços que nunca ocupamos antes, e isso é tido como uma ameaça para aqueles que não nos querem aqui. Precisamos combater essa perseguição, por isso é de suma importância que os movimentos se unam para que a gente possa se fortalecer”, expressa Linda.

Outro recorte do novo feminismo que vem ganhando destaque em Sergipe é o feminismo negro. Em julho de 2017 aconteceu o “Julho das Pretas”, evento criado pelo Instituto Odara, de Salvador, e que acontece atualmente em vários estados brasileiros, em alusão ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino e Caribenha.

Em outubro do mesmo ano ocorreu o Encontro Estadual de Mulheres Negras de Sergipe, com uma grande marcha no centro de Aracaju. Sergipe também participou do evento de grande porte “Encontro Nacional de Mulheres Negras, 30 Anos – Contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver – Mulheres Negras Movem o Brasil”, que aconteceu em Goiânia no mês de dezembro passado.

Foram vários eventos desde então que abordaram o feminismo negro de uma forma ou de outra, e uma das ativistas que representa o movimento é a bibliotecária e historiadora Selma da Silva Santos (foto), que faz parte do grupo “Auto-organização de Mulheres Negras de Sergipe Rejane Maria” e da Rede de Mulheres Negras do Nordeste.

Através dos debates proporcionados por esses eventos, o movimento tem ganhado cada vez mais força, mas segundo a ativista ainda há muito o que se fazer. Selma cita como algumas das principais pautas do feminismo negro “o feminicídio da mulher negra, o extermínio da juventude e da população negra, os ataques às religiões de matriz africana, e o encarceramento da população negra”.

 

 

*Estagiária sob a orientação da jornalista Monica Pinto. 

 

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