Guarda Municipal faz cerco em ocupação de Aracaju
Qualquer pessoa está impossibilitada de entrar com alimento ou água
Cotidiano | Por Saullo Hipolito* 08/05/2018 11h35 - Atualizado em 08/05/2018 11h42

O pescador profissional Júlio Cézar Santos é pai de três mulheres e avô de quatro crianças, ele tem 41 anos e faz parte da “Ocupação Marielle e Anderson Vivem”, montada no bairro Coroa do Meio, na zona sul de Aracaju. Em busca de condições para comprar uma moradia digna para sua família, o trabalhador vai para os rios e mangues pescar, mas atualmente ele está impossibilitado de exercer sua função pelo medo de perder seus pertences que estão no terreno ocupado.

“Estamos precisando disso aqui porque é perto do rio, de onde a gente tira nosso sustento. Precisamos de moradia e de segurança, temos barco, rede, tarrafo, tudo aqui, mas não podemos sair porque podemos perder os materiais caso haja a desocupação”, disse Julio Cézar.

Júlio Cézar Santos afirma que todos os ocupantes são pais e mães de família e estão no local não por  desejo, mas por uma necessidade. "Temos filhos, netos, nossa família está aqui e não temos para onde ir. Nossa intenção não é denegrir o rio, por que faríamos isso se ele serve para nosso sustento? Aqui não tem vagabundo, somente pai de família”, afirma.

O terreno foi ocupado por centenas de pescadores, marisqueiros, vendedores ambulantes da praia na sexta-feira (4), contudo, desde a tarde desta segunda-feira (7) agentes da Guarda Municipal fizeram um cerco à área, impedindo a entrada de comida, água, roupas e materiais para melhoria dos barracos. 

Um dos representantes da ocupação, o jornalista Vinícius Oliveira afirma que já houve algumas reuniões, inclusive com a vice prefeita, Eliane Aquino, que se propôs a dar solução ao caso.

"Ontem fomos chamados, com toda boa vontade do mundo para negociar e meia hora antes da negociação soubemos dessa situação. Ela afirmou que não sabia quem teria dado a ordem e irá tentar revogá-la. Nós não iremos negociar a situação do futuro, se no presente eles não querem deixar que os materiais entrem”, afirma Vinícius.

Com as chuvas que vêm acontecendo em Aracaju, a situação das pessoas fica mais complicada, barracos precisam ser reconstruídos e o terreno, que era utilizado para corridas de buggys, virou um lamaçal.

“Está difícil, mas a gente não quer sair. A gente sobrevive disso aqui, não temos condições de pagar aluguel, estamos indignados com isso”, comenta o pescador.

Segundo Vinícius, representante do Movimento Trabalhadores Sem-Teto (MTST), a ordem para o cerco é do gestor municipal. “A gente soube que a ordem é de cima, do prefeito Edvaldo Nogueira, e queremos dizer que ele tem que aprender a tratar os movimentos sociais e as pessoas. A Guarda Municipal não tem direito de fazer isso, é uma ilegalidade e tem que acabar”, afirma.

Os ocupantes pedem esclarecimentos sobre o uso do terreno, onde estariam acontecendo vários tipos de eventos ilegais. Amanhã está programada uma manifestação em frente ao Centro Administrativo de Aracaju para que haja uma possível reunião e resolução do caso.

Para estar na ocupação, segundo Vinícius, é feito um cadastro e há critérios. “Não fazemos o mínimo de questão de dar casa para quem tem casa. Somos um movimento nacional, para entrar nas ocupações é realizado um registro, a pessoa não pode ter casa, deve receber, no máximo, dois salários mínimos. Se houver alguém a gente expulsa”, disse.

Segundo F5 News apurou, a Prefeitura já ingressou na Justiça com pedido de reintegração de posse e aguarda deferimento ainda nesta terça-feira (8).

A Administração municipal disse ontem (8) que os representantes da ocupação “se negaram a informar à Prefeitura quantas famílias se encontram no local, dado prioritário para que a gestão possa definir ações de atendimento ao grupo”.

* Estagiário sob supervisão da jornalista Fernanda Araujo.

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