Linda Brasil denuncia ter sido alvo de racismo transfóbico na internet
Polícia Civil apura o caso e diz que há fortes indícios dos autores do crime de ódio Cotidiano | Por Fernanda Araujo 24/11/2020 18h02A vereadora mais votada de Aracaju e a primeira mulher trans eleita na Câmara Municipal da capital sergipana, Linda Brasil, foi alvo de ataques transfóbicos na internet nas eleições municipais que ocorreram domingo (15). Desde o resultado do pleito, Linda afirma que áudios e postagens circularam nas redes sociais de pessoas propagando ofensas que ferem a sua identidade de gênero, o que configura crime de racismo transfóbico.
As agressões ocorreram em redes sociais como instagram, facebook, através de áudios em grupos de whatsapp, em postagens no feed e até em comentários de algumas matérias sobre a sua eleição, por supostos pastores ou pessoas ligadas a igrejas e até professores, segundo ela. Ao F5 News, Linda Brasil conta que ataques transfóbicos vêm ocorrendo contra ela desde quando entrou na Universidade Federal de Sergipe, quando foi percursora em usar o nome social e fez trabalhos de conscientização em escolas e universidades, mas, até então, eram "ataques pontuais".
"Só que com a eleição surpreendente, desse resultado histórico da eleição da primeira mulher trans vereadora, a mais bem votada de Aracaju e sendo a mulher mais bem votada em toda a história da Câmara Municipal de Aracaju, isso despertou uma fúria, uma ira, discurso de ódio de várias pessoas que se aproveitam do fundamentalismo religioso para querer deslegitimar", lamenta.
Linda relata que chegou a ser chamada de "demônio" e "de uma mentira", negando ainda sua identidade de gênero. "A gente não está divulgando nomes, mas foram ataques me chamando de uma mentira, que eu não sou uma mulher, me tratando sempre com o gênero masculino, uma forma de me deslegitimar. Um dos fatores que levam a violência, assassinato, é justamente esse discurso. No caso do pastor, há um áudio de cinco minutos que ele chama de "uma coisa do demônio", que "é o fim dos tempos", disse ao F5News. A vereadora eleita afirmou ainda que criou um email e divulgou nas redes sociais para que as pessoas que vissem esses ataques os enviassem a ela.
Cinco nomes de pessoas foram catalogadas em um dossiê contendo ainda dezenas de postagens e que foram entregues, nesta terça-feira (24), no Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV), onde foi registrado um Boletim de Ocorrência. "Fomos na delegacia abrir um BO, conversar com a delegada. Analisando todos os documentos que a gente levou, ela diz que está bem claro que tipifica um crime de racismo transfóbico inafiançável e que pode gerar cinco anos de cadeia", ressalta.Linda Brasil diz ainda temer por sua vida. "Além do crime de racismo transfóbico, esses discursos podem de uma certa forma incentivar ataques a minha vida. Eu não queria publicizar isso, mas desde o dia da eleição que a gente já teve ciência desses ataques. A gente não vai dar visibilidade a essas pessoas porque é isso o que elas querem, se promover em cima desses ataques, em cima da visibilidade que estou tendo. O importante é a gente denunciar, a Justiça já está sabendo. Para muita gente pode ser simples, mas um pastor dizer que eu não sou 'filho de Deus', que eu sou 'um demônio', que eu sou 'uma coisa ruim', 'uma abominação', essa propagação de discurso de ódio provoca comportamento violento e por isso faz com que o Brasil seja o país que mais mata pessoas trans no mundo. Lembrando que transfobia no Brasil é um crime equiparado ao crime de racismo. Então qualquer ataque que fere minha identidade de gênero é um crime transfóbico", completa.
A Polícia Civil, por meio de nota, informa que recebeu a vereadora eleita que noticiou estar sendo vítima de racismo transfóbico nas redes sociais. Segundo a PC, o caso será apurado e já existem fortes indícios dos autores do crime. "As práticas criminosas serão devidamente apuradas através de inquérito policial, para comprovação de materialidade e autoria dos delitos. Já existem fortes indícios de quem são os autores desses crimes de ódio e, após a conclusão das investigações, o inquérito será remetido à Justiça. A Polícia Civil também diz na nota que "o racismo transfóbico tem pena prevista de até cinco anos de prisão"..





