Outubro Rosa
Mulheres relatam vivências durante diagnóstico e tratamento do câncer de mama
Mudanças trazidas pela doença vêm acompanhadas de sentimentos diversos
Cotidiano | Por Emerson Esteves* 13/10/2020 07h30 - Atualizado em 13/10/2020 14h28

“Quando eu não tinha cabelo, sobrancelha, cílios, eu encontrei meu tudo. Eu me redescobri uma nova pessoa, uma nova mulher. Eu me sentia muito mais bonita quando eu perdi meus cabelos, me sentia muito bem. Foi dolorido o processo da perda, é dolorido. Mas, eu renasci junto”, conta a publicitária Marcela Nabuco, 35 anos, ao lembrar os efeitos do tratamento com quimioterapia após ter sido diagnosticada com câncer de mama em setembro de 2017.

Ela não está sozinha. De acordo com o  Instituto Nacional de Câncer (INC) são estimados 66.280 novos casos da doença apenas em 2020, sendo este o tipo de câncer mais comum entre as mulheres. 

O câncer de mama pode ser percebido em fases iniciais, na maioria dos casos, por meio de um nódulo (caroço), fixo e geralmente indolor, sendo esta a principal manifestação da doença, estando presente em cerca de 90% dos casos quando o câncer é percebido pela própria mulher. Em casos de pacientes diagnosticadas precocemente, a chance de sobrevida varia entre 93-100%, mas não passa de 72% para os casos diagnosticados tardiamente. 

“Enquanto estava tomando banho, fiz o auto exame, quando eu percebi que existia um nodulozinho e ele estava quente e doía, procurei o médico e fiz exames. O primeiro resultado deu algo benigno, só que sentia o incômodo do caroço crescendo e repeti os exames. Feita a biópsia em setembro de 2017, recebi o resultado que apontava positivo para células malignas”, revela Marcela que mantinha uma rotina muito regular com os exames. 

A publicitária faz parte do grupo de apoio “Flores de Aço” composto por mulheres que enfrentaram o câncer - sem distinção de tipo. Após a confirmação do diagnóstico ela fez uma Quadrantectomia - cirurgia que consiste na retirada do segmento ou setor da mama que contém o tumor - é comum que a identidade feminina seja questionada e que, acompanhadas pela incerteza sobre a vida, a possibilidade de recorrência da doença e a dúvida a respeito do sucesso do tratamento se tornem duras adversárias para as pacientes.

“Eu lembro que eu só pensava em saber quantos dias de vida eu tinha, porque eu sempre fui muito dona de mim, sempre fui mãe, de resolver meus problemas. Então, quando eu descobri que estava com câncer, a primeira coisa que veio na minha cabeça foi descobrir quanto de tempo eu tinha pra poder organizar a vida, pra deixar tudo organizado”, diz Marcela. 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Marcela Nabuco (@marcelanabuco) em

Entretanto, para a publicitária, este também foi um momento de autoconhecimento e de ressignificação de valores em sua vida.  

“Sempre fui muito descuidada com questão de beleza, nunca fui de me cuidar. Fui uma Marcela quando o cabelo caiu, fui outra quando eu fiquei careca, e fui outra quando ele começou a nascer de novo. É um processo muito lindo, se vocês se abrirem para que ele possa acontecer de uma maneira leve na sua vida. E leveza não significa que não vai ter dor. Vai ter dor, vai ter tristeza, mas se você estiver em paz é meio caminho andado”, afirma Marcela. 

O câncer de mama não tem somente uma causa. A idade é um dos mais importantes fatores de risco para a doença, cerca de quatro em cada cinco casos ocorrem após os 50 anos.  O câncer de mama de caráter genético/hereditário corresponde a apenas 5% a 10% do total de casos da doença.

As cicatrizes físicas e emocionais não podem ser ignoradas durante e após o tratamento. Esse foi um processo que também atingiu em cheio a publicitária  Renata Abreu (35 anos). Sendo da mesma faixa etária de Marcela e sem casos da doença na família, ela também foi surpreendida com o diagnóstico. 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Renata Abreu (@renata7up) em

“Foi um choque a notícia. Fiquei sem saber o que fazer, sem saber se o câncer era só na mama. Fiz a retirada das duas mamas e segui todos os protocolos”, afirma Renata. No caso dela, a confirmação aconteceu em abril de 2019 que foi sucedida com sua ida a São Paulo para realização da mastectomia bilateral (retirada dos seios). As 16 sessões de quimioterapia e a radioterapia deixaram marcas, porém o suporte de uma rede sólida de apoio a ajudou a passar por esse momento.

“São muitas escolhas que a gente precisa fazer e isso é muito confuso. No meu caso eu simplesmente fui, não tinha opção. Meu choque maior foi a quimio, me ver careca. Recebi muito apoio com as meninas que tinham passado por isso. Raspei o cabelo, não quis peruca, turbante, lenço. Foi muito por conta dessa rede de apoio”, lembra Abreu, de forma confiante. 

Autocuidado 

“O tratamento é difícil. Mas, hoje em dia a medicina está avançada. Não podemos esquecer da importância do autocuidado e não negligenciar sinais. Toda mulher pode e deve fazer, são pequenos hábitos no dia a dia, meditação, enfim, atividades que deem prazer. Até passar um hidratante, um banho demorado, tudo é autocuidado”, conta Renata sobre como ter vencido o câncer influenciou seus hábitos de vida. 

O autocuidado se refere ao conjunto de ações que cada indivíduo exerce para promover melhor qualidade de vida em meio à rotina. “Façam terapia, façam coisas que te deem prazer, criem hábitos saudáveis para vida. E ter esse autocuidado e auto amor por você.  No corre corre da vida a gente esquece a pessoa principal, que somos nós”, complementa Marcela. 

Cerca de 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com a adoção de hábitos saudáveis como a prática de atividade física, ter uma alimentação saudável e manter-se no peso corporal adequado, por exemplo.

A gratidão e a valorização do ser mulher são ainda mais evidenciados pelas publicitárias após as transformações causadas pela doença. “Não é fácil. muitas vezes, se olha no espelho e não se reconhece. Mas, ao mesmo tempo, passei a ser muito grata”, afirma Renata Abreu. “Comecei a comprar lenços, roupas, fiquei mais moderna, criei outros estilos de me vestir. E um dos processos que eu mais considero bonitos para mim, dentro da minha feminilidade, foi essa perda do cabelo, porque eu renasci junto”, conclui Marcela Nabuco. 

 

*Estagiário sob a supervisão de Will Rodriguez
 

Edição de texto: Will Rodriguez
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