“Ninguém quer ler nem jornal. Somos semi-alfabetizados”, diz Araripe
Poeta quer cadeira na CMA. “O que eu tenho a ver com Tiririca? Sou jornalista. Penso” Cotidiano 14/08/2011 10h40Entrevista - Araripe Coutinho
Por: Silvio Oliveira
F5 News - Araripe Coutinho nunca foi tão exposto como nos dias atuais. Como o poeta observa essa procura, e qual a causa?
Araripe Coutinho - Acredito que as pessoas querem coisas novas. Todo mundo fica nu todo dia, nada acontece. O que houve foi que as fotos de Sagatto eram de uma arte incrível. Atrelado a isso, dentro de uns móveis centenários divinos. Mais ainda: num museu. As pessoas queriam ver um modelo sarado, acharam a naja desnuda de Goya, encontraram a gorda de Botero deitada sobre papoulas amarelas e o viado. O viado entra aí como adereço. As pessoas ficam de cara quando alguém vai de encontro a tudo isso. E as fotos ganharam o mundo, a grande mídia, a Veja, a Época, o Bom Dia Brasil, o Jornal Hoje e os grandes jornais de circulação como a Folha, o Globo, Jornal A Tarde e não foram notas, foram páginas com chamada de capa. Acho que tudo isso mexeu com o subconsciente das pessoas. Como pode um assunto tão comum virar manchete da noite para o dia em todos os veículos e até na americana CNN? Não era o poeta, Não era a pessoa. Era o símbolo. O depositário em pose de revista, mostrando a pança. Que lúdico, que bizarro, que ousadia. Era isso. As pessoas começaram a se desnudar. Começaram a pôr para fora os seus preconceitos, os seus traumas, suas confissões mais íntimas e misturaram tudo: religião, sexo, arte, público, privado, santo, profano. Foi um mergulhar fundo no excesso, excesso de nós mesmos: espelho de nossos próprios medos.
F5News - A publicação das fotos pela imprensa nacional deu um toque especial à carreira do poeta ou foi pura procura da mídia pelo sensacionalismo?
A.C. Não. Na semana tinham fatos como a prisão de Pimenta Neves, a saída de Palocci... e quem ganhou no toptrends por dois dias no Brasil fui eu. Foi um fenômeno, algo que não se explica. O editor de Veja, Mario Sabino, escreveu página inteira como a imagem da semana. “Somos muito literais” – disse ele. Claro que tudo ajudou para a curiosidade pelo menos pelo meu trabalho de 20 anos de literatura e que ninguém nunca quis saber.
F5 News - Folha de S.Paulo, Veja, Rede Globo foram alguns dos meios de comunicação através dos quais o poeta concedeu entrevista. O senhor acredita que as fotos tiradas ganharam grande repercussão por serem clicadas num prédio histórico (Palácio-museu Olímpio Campos) ou por Araripe não está nos padrões de belezas imposto pelo mercado do corpo perfeito?
A.C. - As duas coisas. O prédio chamou a atenção. O lugar nunca escolhido pelas vedetes da Playboy. Mas a gordura localizada (chique , não?) foi a que mais deu panos para as mangas. As pessoas enlouqueceram. Piraram. O poeta está nu. Mostrando aquele saco de banha. Não é possível. Eu não estou acreditando e caíram matando.
F5 News - Há poucos dias, Araripe Coutinho foi entrevistado por Jô Soares. Sabe-se que por vezes o apresentador costuma colocar o entrevistado em enrascadas, com perguntas embaraçosas. Por vezes também tenta simplificar os acontecimentos e quando o entrevistado não está preparado, a entrevista termina seguindo o enredo da caricatura. Como foram os momentos no sofá do Jô?
A.C. - Ele, o Jô, é um lorde. Fiz a linha sério como se tivesse ido falar de um livro sagrado. Ele tentou, foi ríspido mandando tirar a foto do telão com a palavra “tire!”, desmaiou na cadeira, disse que poucas coisas na vida o deixaram sem palavras... mas eu tentei caminhar pelo lado sério para não servir de chacota. E foi o que ocorreu.
F5 News - Comenta-se que Araripe Cotinho ficou mais famoso pelas fotos do que pelos livros publicados e vendidos. O comentário enrijece o semblante do poeta?
A.C. - Acho isso natural. Ninguém lê poesia. Ninguém quer saber de ler nem jornal no País. Somos semi-alfabetizados e agora com o computador então. As fotos foram apenas um motivo para dizer: ele também escreve, e escreve bem. Veja!
F5 News - Com a grande exposição dos últimos dias partidos políticos sondaram Araripe Coutinho. Há pretensão de disputar algum cargo político?
A.C. - Quero ser o vereador mais votado de Aracaju. Serei um excelente parlamentar. Seria a naja desnuda da Câmara. Tenho muito a contribuir, sim. Consegui, à época, a construção da Biblioteca Municipal do Augusto Franco com recursos do BNDES, fui 8 anos diretor da Biblioteca Municipal “Clodomir Silva” e consegui a reforma da casa e um aumento no acervo da mais de 90%. Quero mudar a cara da cidade.
F5 News - Há alguns dizendo que o poeta poderia ser mais um daqueles como Tiririca, Romário, Frank Aguiar... que entraram na vida política por meio da fama e que representam a consciência, ou até mesmo a inconsciência, eleitoral da grande maioria brasileira. O poeta estaria enquadrado nesse contexto?
A.C. - Você sabe que não. Você pode ser cego, mas não é burro. O que eu tenho a ver com Tiririca, Romário, Frank Aguiar? Nada. Escrevo. Sou jornalista. Penso.
F5 News - Com o advento dos sites de relacionamento e da tecnologia a poesia continua num lugar de destaque entre as publicações ou procura se enquadrar as novas mídias?
A.C. - A poesia é para poucos, infelizmente. Ninguém quer saber. Ninguém. A geração Drummond, Bandeira, Quintana, Cecília passou. Agora temos Manoel de Barros, um gênio, mas ninguém nunca descobriu o pernambucano Marcos Acyoli. Dói.
F5 News - No mais, Araripe Coutinho para o futuro?
A.C. - Linda e loira. Sempre.


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