Aquelas roupas que já estão apertadas, o aumento do ponteiro na balança e o acúmulo de gordura são indícios de alerta para a saúde. A obesidade está presente na vida de milhões de brasileiros e, segundo especialistas, pode elevar os riscos de males físicos, como nas relações pessoais e profissionais, uma vez que essas pessoas são mais propensas à depressão e ansiedade. Uma alimentação inadequada ou excessiva, junto ao sedentarismo está entre as principais causas da doença, que pode ter influência ainda de fatores genéticos e psicológicos, no momento em que o estresse ou as frustrações desencadeiam crises de compulsão alimentar.

Segundo a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, episódios de apneia do sono, dificuldade para movimentar-se, cansaço frequente e distúrbios no ciclo menstrual nas mulheres também são indicadores da doença. O problema pode ser combatido com mudança de hábitos: uma dieta menos calórica junto à atividade física. Uso de medicamentos prescritos por profissionais médicos também pode fazer parte do tratamento, além de, em casos mais graves, poder ser recomendada a cirurgia bariátrica. 

Em entrevista ao F5 News, o cirurgião bariátrico e digestivo Marcelo Protásio explica como essa doença afeta a saúde, as condições para que a cirurgia bariátrica seja indicada e como o procedimento pode ajudar o paciente a ter uma melhor qualidade de vida. 

F5News - Quais são as causas da obesidade e ela está associada a quais doenças?

Marcelo Protásio - A causa da obesidade é multifatorial, como sedentarismo, genética, má alimentação, fatores psicológicos e hormonais. Está associada a mais de 160 doenças - pressão alta, diabetes, colesterol elevado, gordura no fígado, refluxo, ansiedade, neoplasias malignas, infertilidade, entre outras.

F5News - Como a obesidade afeta o corpo? Quais são os prejuízos e fatores de risco para a saúde?

MP - Trata-se de uma pandemia perigosa e silenciosa. Causa inflamação a longo prazo em todos órgãos do corpo humano, aumentando risco de doenças cardiovasculares, neoplásicas e infecciosas - como vimos recentemente ser um fator de gravidade na Covid-19 -, além de piora importante da qualidade de vida.

F5News - A obesidade infantil é uma das preocupações devido ao aumento de casos. Quais são os riscos dessa doença na vida da criança e quais são as orientações direcionadas para esse público?

MP - Risco de crianças precocemente doentes, necessitando até mesmo de medicações e alto índice de obesidade quando na fase adulta. As orientações aos pais são que devem procurar o pediatra especialista em distúrbios endocrinológicos para tratamento o mais precoce possível, principalmente com mudanças de comportamento, dieta e atividade física.

F5News - Existem tratamentos alternativos como terapia comportamental, por exemplo? Como podem ajudar?

MP - Terapia comportamental sempre ajuda nesse processo de perda de peso. Inclusive todos pacientes candidatos à cirurgia bariátrica passam por uma boa avaliação psicológica a fim de preparar da melhor forma possível o paciente para essa mudança de vida. 

F5News - Existem novos métodos, novos tratamentos médicos minimamente invasivos? Como a medicina tem evoluído nessa questão?

MP - Cirurgia bariátrica evoluiu muito nos últimos anos. Hoje utilizamos materiais de última geração, que são muito seguros e que proporcionam um procedimento com baixíssimos índices de complicação. Cirurgia é feita por laparoscopia (pequenas incisões de 0,5 a 1cm), dura aproximadamente de uma hora e uma hora e meia e tem tempo de internação de aproximadamente um dia apenas. Risco de uma cirurgia bariátrica hoje é muito semelhante a uma cirurgia de retirada de vesícula ou correção de refluxo gástrico. 

F5News - Como prevenir o aumento de peso pós tratamento?

MP - É fundamental o paciente manter acompanhamento com equipe assistente. Mantendo-se firme no propósito de uma vida saudável com atividade física, alimentação adequada e seguimento periódico nas consultas. Seguir isso faz com que tenhamos sucesso no tratamento na maioria dos casos.

F5News - Como funciona a cirurgia bariátrica e quais são as técnicas?

MP - A cirurgia funciona com objetivo de reduzir estômago e principalmente causar efeitos hormonais. Reduz o hormônio da fome (grelina) e aumenta hormônios que melhoram níveis metabólicos, reduzindo diabetes e outras doenças associadas (como GLP1, GLP2, PYY), além de causar saciedade precoce.

As duas principais técnicas são Sleeve e Bypass, com perdas de peso semelhantes, mas com indicações distintas a depender da presença ou não de doença do refluxo gastroesofágico e diabetes.

F5News - Qualquer quadro de obesidade é suficiente para justificar a cirurgia bariátrica ou depende da condição da pessoa?  Em que circunstâncias é indicado o procedimento?

MP - A cirurgia tem sua indicação para pacientes com IMC (índice de massa corpórea, calculado pelo peso dividido pela altura ao quadrado) acima de 35Kg/m2. Para pacientes com esse índice >35 e que já tentaram perder peso de outras formas, quanto mais precocemente operar, menor o risco de desenvolver todas aquelas doenças associadas à obesidade. Pacientes precisam saber que existe, sim, um método eficaz, padronizado e seguro para tratamento da obesidade, e não ficarem com medo ou sofrendo preconceitos de comentários gordofóbicos (“isso é preguiça”, “é só fechar a boca”, “é só ir para academia”). Obesidade é uma doença que tem tratamento e precisamos tratar com respeito.
 

*Com informações da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein