Pacientes com câncer esperam há cinco meses por cirurgia oncológica no HU
Denúncia foi protocolada nos MP e hospital diz não ser habilitado para procedimento Cotidiano | Por Fernanda Araujo 12/08/2020 16h15 - Atualizado em 12/08/2020 17h28Desde o início da pandemia, pacientes com câncer aguardam pela realização de cirurgias oncológicas no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS), em Aracaju, conforme denúncia protocolada nesta quinta-feira (12) pela Associação Mulheres de Peito, nos Ministérios Públicos Estadual e Federal.
Segundo o Grupo, a espera, que atinge homens e mulheres, já dura cinco meses, período em que o hospital não está realizando cirurgias oncológicas. Cinco pacientes procuraram a associação relatando o problema, mas a entidade acredita que esse número pode ser maior. Um deles chegou a vender uma determinada propriedade para pagar pelo procedimento em uma unidade de saúde particular.
Uma das pacientes que espera pelo procedimento é a agente de saúde Alzidete Brandão, diagnosticada com câncer de mama em setembro do ano passado, portanto há onze meses, e que está tendo dificuldade para conseguir uma cirurgia da mama há cinco. "Eles [o hospital] alegam que por conta da Covid os leitos estão todos ocupados, inclusive os leitos cirúrgicos e agora estão falando que as cirurgias estão voltando, mas só de pequeno porte. De grande porte não está fazendo por falta de material, que está faltando sedativos e anestesia também", conta.
Alzidete questiona ainda por que os pacientes não são transferidos para outro hospital. Segundo ela, a quimioterapia acabou em março e neste período já era para estar terminando o tratamento e ter feito a cirurgia. "Tenho muito receio, temo muito por minha vida, eu só tenho 39 anos, tenho uma filha de que cuido sozinha e ela precisa muito de mim. Os governantes esqueceram que existem outras doenças e que precisamos de cuidados também. Estou muito preocupada, pois o câncer não espera, todos sabemos disso, menos nossos governantes", lamenta Alzidete, que está afastada das funções por conta do tratamento.
A moradora de São Cristóvão Joseane Meneses também relata que há dois anos terminou a quimioterapia e iria ser operada este ano, já que estava com todos os exames. Ela também precisaria passar por atendimento de cardiologista, no entanto, soube que havia falta de médicos para atendê-la. Ainda segundo Joseane, somente depois da cirurgia ela também precisará fazer radioterapia; tratamento que já deveria ter sido concluído.
"Eu vou toda a semana lá tentar falar com algum médico, não consigo. Não tenho retorno. Já estou sentindo dores e cada dia que passa está muito difícil, é uma crueldade. Não são só as pessoas com Covid que precisam de tratamento, a gente também precisa. A gente quer ser curada, quer viver, ter esperança de dias melhores, ter realmente uma vida normal. A gente luta muito todo dia, contra dores, preconceito e só precisa do que é direito. Cada dia que passa a gente sente que está perdendo mais um dia de vida porque podemos ter uma recaída a qualquer momento. Está uma situação muito difícil, todos os dias colocar a cabeça no travesseiro e saber que não temos resposta de nada", afirma.
F5 News entrou em contato com a assessoria de comunicação do hospital universitário que se manifestou por meio de nota. Confira a íntegra:
"O Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS), filial da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), informa que ainda não tem habilitação para realizar cirurgias oncológicas, o que tem sido discutido com a Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju (SMS) e com os Ministérios Públicos Federal e Estadual. Enquanto a referida habilitação não for liberada pelos órgãos competentes, o HU-UFS não pode realizar nenhum procedimento cirúrgico oncológico", conclui.





