Os pais de um dos pilotos vítimas do acidente aéreo com o cantor Gabriel Diniz, em Estância, Sul de Sergipe, prestaram depoimento nesta terça-feira (4) na sede da Polícia Federal, em Aracaju, que investiga o caso sob sigilo. Esta semana, a PF começou a ouvir testemunhas e familiares das vítimas sobre o caso. 

De acordo com a Polícia, o Inquérito Policial vai apurar eventual prática do crime de atentado contra a segurança de transporte aéreo. Os depoimentos dos pais de Abraão Farias, que pilotava o monomotor, duraram cerca de 40 minutos. Ao final da oitiva, os pertences do piloto recolhidos no local do acidente pela PF para perícia foram reconhecidos e entregues aos pais.

Em entrevista à imprensa sergipana, o pai afirmou que o voo foi fretado por R$ 4 mil, negando a versão do Aeroclube que diz que o músico viajava de carona. "Meu filho acertou o preço com o Aeroclube, o cantor pagou para levar em Feira de Santana, em Salvador, e trazer em Maceió, mas infelizmente não chegou ao destino", disse Erivaldo Farias à TV Atalaia.

Ainda segundo Erivaldo, o filho, piloto há sete anos, tinha conhecimento de que a aeronave continha registro apenas de voos de instrução e não de táxi aéreo. "Com liberdade da diretoria do Aeroclube ele voava com essa aeronave, conhecia a aeronave, tinha experiência. Com esse cantor foi a primeira vez, mas com outros já tinha feito muita viagem mesmo que a aeronave não era para táxi aéreo. Os artistas que vinham ao Nordeste voavam com meu filho, por conhecimento de outros, pela segurança que ele tinha como piloto, meu filho era muito procurado porque era muito bom piloto", disse ele.

Os familiares chegaram de Maceió (AL) por volta das 5h e antes de prestar depoimento foram para o local da tragédia, no povoado Porto do Mato, onde conversaram com moradores da área que auxiliaram no resgate às vítimas. "A gente ainda não tinha detalhes mínimos de como havia acontecido esse acidente, e a gente tinha uma preocupação de ver o local onde meu filho encerrou a vida dele", lamentou Erivaldo.

Minutos antes do embarque, o piloto Abraão chegou a entrar em contato com a mãe por mensagem. Emocionada, a mãe contou à TV Atalaia que, por volta do meio dia, Abraão pediu a ela que fosse buscá-lo às  13h30 no aeroclube. Ela ainda estava no local quando recebeu a notícia. Segundo ela, o filho costumava a se comunicar antes e depois das viagens. "Quando viajava mandava vídeos, dizia que era o escritório dele. Era um menino muito bom, querido, piloto maravilhoso, filho amado, não deixava faltar nada em casa, a gente tinha orgulho de ter um filho como Abraão Farias", disse Dorivani Gonçalves de Farias.

"Essa dor vai demorar a passar, a gente recebe conforto, mas nada substitui a presença dele. Era difícil encontrar ele triste, de cara feia, sempre foi brincalhão, tinha uma facilidade de fazer amizade. Essa imagem a gente nunca vai esquecer", disse o pai. No último dia 2, uma missa em memória das vítimas foi realizada em Estância.

Investigações

O avião modelo Piper Cherokee PT-KLO caiu no povoado Porto do Mato, em Estância, no sul de Sergipe, matando o cantor Gabriel Diniz e os pilotos Abraão Farias e Linaldo Xavier, no começo da semana passada. Após o recolhimento dos destroços do avião, os materiais foram levados para o Aeroclube de Sergipe sob a responsabilidade do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos – CENIPA, que também investiga o caso. Itens, a exemplo de uma arma de fogo encontrada no local, também foram recolhidos no local do acidente.

O Aeroclube de Alagoas, proprietário da aeronave que estava regular, foi interditado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que apura indícios de irregularidades na operação do avião, cujo registro permitia apenas voos de instrução e não de táxi aéreo. 

A direção do Aeroclube declarou que Gabriel Diniz teria pego uma carona no voo que saiu de Salvador (BA) com destino a Maceió (AL).