Pesquisa aponta presença de micropoluentes em praias de Sergipe
Duas praias sergipanas têm alta concentração dessas substância Cotidiano 09/03/2021 05h27 - Atualizado em 09/03/2021 11h33A poluição provocada pelo plástico jogado em praias e rios pode causar danos ainda maiores, inclusive à saúde da população, a partir de microplásticos que se decompõem na água. É a conclusão de pesquisadores do Instituto de Tecnologia e Pesquisas (ITP) e dos programas de Pós-Graduação em Saúde e Meio Ambiente (PSA) e em Engenharia de Processos (PEP), da Universidade Tiradentes (unidade Sergipe). Com o título “Análise da ocorrência de microplásticos em areia de praia do litoral brasileiro”, ela foi tema de um artigo publicado em 25 de janeiro deste ano pela revista científica internacional Science of the Total Environment, especializada em estudos sobre o meio ambiente.
O estudo se baseou em análises de amostras da areia coletada em seis praias do litoral brasileiro: Ponta dos Mangues (Pacatuba/SE), Praia do Viral (Aracaju/SE), Imbassaí (Mata de São João/BA), Regência (Linhares/ES), Praia das Castanheiras (Guarapari/ES) e Praia do Pecado (Macaé/RJ). Ao processarem as amostras, com uso de soluções químicas e análise microscópica, foi encontrado total de 166 itens de microplásticos presentes nas areias, sendo 85,1% de fragmentos menores que 5 milímetros e, em sua maioria, de origem secundária.
A maior concentração destas substâncias apareceu nas duas praias sergipanas: a do Viral, que registrou 17,4 itens/m²; e a da Ponta dos Mangues, com 30,4 itens/m². O estudo aponta que “a grande quantidade de microplástico em uma praia pode estar relacionada à foz de um dos maiores rios brasileiros”, o Rio São Francisco, que deságua na região entre as cidades de Brejo Grande (SE) e Piaçabuçu (AL). Ou seja: os micropoluentes achados nas praias podem ser produtos do plástico que é jogado no rio, sobretudo em cidades ribeirinhas, e levado para o mar.
“Hoje em dia, se sabe que o plástico é carregado para o mar e gera ilhas de lixo plástico nos oceanos, o que traz um problema muito sério, tanto para a fauna quanto para a flora. E o plástico não é só gerar o lixo. Quando ele está no meio ambiente, vai se degradando e se quebrando em partículas muito pequenas, que são os microplásticos”, explica Maria Nogueira Marques, pesquisadora do ITP e professora do PSA/Unit. Ela destaca ainda que alguns desses microplásticos já foram encontrados em animais marinhos, como peixes, mariscos e moluscos. “Esses microplásticos acabam ingeridos pelos animais aquáticos, e a gente pode inclusive consumir”, acrescenta.
Substâncias
Para além da presença dos microplásticos, outro problema causado pelo descarte indevido dos plásticos está em duas substâncias químicas presentes em sua composição: o dibutilftalato, utilizado em adesivos e tintas de impressão, e o bisfenol-A, usado na fabricação de potes e garrafas de plástico, mas que foi alvo em 2012 de uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), proibindo o seu uso na fabricação de mamadeiras. De acordo com Maria Nogueira, estas substâncias acabam liberadas no contato com a água, sobretudo se ela estiver quente.
A professora ressalta que esses compostos químicos são tóxicos e capazes de alterar o controle das funções hormonais de quem acaba consumindo a água ou os peixes contaminados, além de interferir no ecossistema. “Tanto o bisfenol-A quanto o dibutilftalato são substâncias consideradas desreguladores endócrinos. Em pequenas quantidades, quando consumidos, elas podem interferir no regulamento do sistema endócrino, tanto em seres humanos quanto nas espécies aquáticas. É sabido que esses desreguladores acabam provocando feminilização em peixes, e interferindo no ecossistema aquático”, diz a professora, pontuando que as substâncias podem agir mesmo em uma concentração muito baixa na água.
Fonte: Ascom Grupo Tiradentes





