Sergipe
Presidente do Sindimed vê gestão da pandemia 'sem diálogo e desorganizada'
"Incompetência dos gestores ficou à mostra", diz o médico José Helton Monteiro
Cotidiano | Por Fernanda Araujo e Will Rodriguez 20/10/2020 11h50

Sem diálogo, desorganizada e incompetente. É a avaliação do novo presidente do Sindicato dos Médicos de Sergipe (Sindimed), José Helton Monteiro, sobre a gestão na saúde perante a pandemia pelos Governo de Sergipe e Município de Aracaju. Em entrevista ao F5 News, o médico fez críticas à atuação das gestões na pandemia, inclusive relacionadas à falta de diálogo com os atores que estão na linha de frente. 

Para Monteiro, que é médico do trabalho e assumiu a presidência do sindicato nesta segunda-feira (19), a pandemia acabou evidenciando os problemas que já eram enfrentados no sistema público de Saúde, o qual, segundo ele, já vinha sendo "sucateado, desvalorizado e com falta de investimentos". 

"Servidores públicos nunca foram valorizados nos últimos anos pelos governantes e percebemos que, com a pandemia, a incompetência dos gestores ficou à mostra. Isso se mostrou no número de mortos, falta de leitos de UTI, hospitais desorganizados, falta de material, falta de escalas com médicos. Então a desorganização, a falta de diálogo entre o governo estadual e o municipal foi nítida para todos", declarou Monteiro em entrevista ao F5 News.

À reportagem, o médico citou casos de pacientes que demoraram horas em fila aguardando transferência para hospital e até leito de UTI - este de responsabilidade do Governo -, sendo que no momento o Hospital de Campanha estava vazio. O presidente também criticou no período a falta de comunicação com os profissionais de saúde - "(...) de ter humildade de chegar para quem está na linha de frente, para quem está trabalhando, e dizer o que é que nós devemos fazer? Isso não houve. Tanto o governo estadual como a prefeitura de Aracaju se eximiram de estar dialogando conosco sobre qual a conduta correta. No primeiro momento sentaram, não sei se para fazer apenas jogo de cena. Depois pararam de reunir para perguntar nossa opinião sobre como estava sendo conduzida a pandemia", relatou. 

O médico diz ainda que pede para os governos a valorização do SUS e dos profissionais de saúde, que seguem em plantões e na linha de frente, também apreensivos com uma possível contaminação. "Não podemos admitir que, em plena pandemia, a gente tenha que falar de gratificações que são cortadas pelo governo, tenha que falar de terceirização. Porque tem profissionais que trabalham em hospital terceirizado de Aracaju; ele ficou doente, não recebeu salário e quando tentou voltar para a escala não conseguiu, tiraram ele da escala, esse tipo de absurdo. Gente que ficou na UTI 15 dias, quando voltou para trabalhar e recebeu o contracheque teve salário cortado. Em meio à pandemia, vamos continuar perseverando, lutando pelos nossos pacientes, apesar dos gestores", completou Monteiro.

O que dizem o Governo e a PMA

F5 News procurou a Prefeitura de Aracaju e o Governo do Estado para que se pronunciassem sobre as declarações. Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Saúde disse discordar do questionamento do novo presidente sindical, o qual afirma que faltou diálogo entre a gestão e a categoria. Segundo a pasta, desde a confirmação do primeiro caso na capital, por meio da gestão municipal, foi estabelecido canal de diálogo com entidades médicas, “a exemplo da apresentação do Plano de Contingência a hospitais da capital no dia 13 de fevereiro e da reunião realizada dia 18 e 26 do mês de março”. A SMS cita ainda que em maio, no dia 14, representantes das entidades de saúde, entre elas o Sindimed, aprovaram adequações feitas no Hospital de Campanha Cleovansóstenes Pereira Aguiar. Destaca que foi criado um protocolo de enfrentamento à Covid-19, repassado a profissionais que ingressam na rede para trabalhar no combate à pandemia; e a contratação de médicos indicados pelo Cremese, a pedido da SMS.

“Sobre tempo de espera para transferência para leito de UTI, a SMS informa que cabe à gestão municipal o tratamento de baixa e média complexidades e que a regulação para leitos de UTI é realizada pelo governo do Estado. Já a respeito de corte de salário de profissionais acometidos pelo novo coronavírus, a Secretaria informa que não tem registro de casos desse tipo nas unidades referenciadas pelo município e orienta os profissionais que formalizem denúncia na ouvidoria do órgão por meio do número 0800-729-3534”, diz na nota.

A Secretaria informa ainda que profissionais contratados receberam capacitação teórica e prática, pelo Centro de Educação Permanente da SMS, acerca da abordagem, identificação, manejo clínico e tratamento dos casos suspeitos da doença, conforme Protocolo do Ministério da Saúde. E que as aulas abrangeram protocolo covid-19; fluxos de atendimentos; técnicas de intubação e a forma correta de paramentação e de desparamentação quando da utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

“A respeito das escalas de médicos, a SMS relembra que os Ministérios Públicos Federal, Estadual e do Trabalho moveram Ação Civil Pública solicitando a contratação de médicos com registro provisório. A solicitação chegou a ser deferida e foi suspensa pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região.  Paralelo ao cumprimento das decisões judiciais, a Secretaria disponibilizou dois chamamentos públicos, sendo o Edital nº 04/2020, para contratação imediata de médicos generalistas; e o Edital nº 08/2020, para contratação de médicos intensivistas. Também foi aberto, provisoriamente, edital para contratação de médicos via Pessoa Física, além dos editais que se encontram abertos desde 2019 para credenciamento de prestadores de serviços médicos, por meio de pessoa jurídica, nas redes de urgência e emergência, atenção básica, psicossocial e rede de atenção especializada, todas regidas por editais específicos. A Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA) atua para garantir a estabilidade nos atendimentos aos pacientes infectados por covid-19, com necessidade de leitos de internação. O Hospital de Campanha (HCamp) Cleovansóstenes Pereira Aguiar foi responsável por atender 461 pacientes e recuperar 343 deles (74%) na própria unidade hospitalar provisória. Esse conjunto de ações é responsável por Aracaju estar entre as capitais que possuem uma das menores taxas de letalidade por covid-19 no País e a menor da região Nordeste, conforme apontado pelo MonitoraCovid-19 – Sistema de Informação para Monitoramento da Pandemia do Coronavírus (Covid-19) – criado pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). Atualmente, o índice de letalidade da doença é de 2,1%”, completa na nota.

O Governo do Estado não se manifestou até a publicação desta notícia. O espaço segue aberto. 
 

Edição de texto: Monica Pintosh
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