Profissionais da saúde dizem haver vacinas em estoque sem aplicação
Entidades de todas as categorias da saúde cobram celeridade na vacinação Cotidiano | Por Laís de Melo 04/03/2021 12h35 - Atualizado em 05/03/2021 09h22Profissionais da área de saúde em Sergipe seguem reclamando do planejamento de vacinação em curso no Estado e em Aracaju. Na manhã desta quinta-feira (04) realizaram coletiva com a imprensa na sede da Sociedade Médica de Sergipe (Somese) para expressar essa insatisfação. Segundo as entidades das diversas categorias da área, como médicos, enfermeiros e farmacêuticos,a lentidão no processo de imunização está colocando a vida de profissionais e de toda a sociedade em risco. Para eles, o problema não é a falta de vacina, já que alegam haver doses disponíveis em estoque, mas a burocracia e a centralização estariam tornando o processo lento. A Prefeitura de Aracaju nega, conforme mostrado por F5 News.
O presidente do Sindicato dos Médicos de Sergipe (Sindimed), Helton Monteiro, diz haver cerca de 8 mil vacinas para aplicação da primeira dose nos profissionais da saúde, e é incompreensível que essa providência ainda não tenha sido tomada.
De acordo com o Boletim Vacina Covid-19 da Secretaria de Estado da Saúde (SES), foram distribuídas 25.639 vacinas para a 1º dose dos profissionais da linha de frente, no entanto, somente 15.836 foram aplicadas, o que significa cobertura de 67% até o momento.
“O mais interessante é que eles burocratizam o processo, pedindo um cadastro onde os médicos precisam apresentar até os últimos três contracheques, isso é inadmissível. Em outros estados, basta mostrar a carteira do conselho para ter acesso à vacina. O mesmo está acontecendo com os idosos, que têm reclamado que não estão conseguindo fazer o cadastro. Se para nós, profissionais da saúde, está difícil, imagine para os idosos. A prefeitura de Aracaju e os grandes municípios de Sergipe devem rever o processo de vacinação, e rever a forma como eles estão fazendo a logística”, pede o médico Helton Monteiro.
Além disso, ele cita que no último final de semana o estado possuía 35 mil vacinas para a primeira dose em estoque, porém não havia nenhum posto de vacinação na capital. “Sergipe tinha capacidade de chegar a 90 mil doses aplicadas, e ainda temos em estoque 44 mil doses a serem aplicadas. Eu creio que o governo do Estado e as prefeituras têm que buscar um processo diferente, mais rápido, porque cada segundo é importante. Temos pessoas que se não forem vacinadas agora, daqui a algum tempo podem estar na UTI, à beira da morte, e estamos preocupados com isso”, desabafou o presidente.
Segundo Helton, poucos foram os médicos que não testaram positivo. Sete deles perderam a vida na batalha contra a covid-19, e outros dois estão com quadro grave da doença.
O presidente do Conselho Regional de Medicina, Jilvan Pinto, ingressou com ação na Justiça Federal solicitando celeridade e a inclusão dos médicos ambulatoriais na lista de prioridades para a vacina. Conforme ele aponta, atualmente a linha de frente inclui todos os profissionais, já que até aqueles que atendem em consultórios estão expostos à doença.
“O fator de risco para o profissional da saúde extrapolou os limites do hospital, porque o ambulatório voltou a funcionar. Temos uma demanda muito reprimida de pacientes com doenças crônicas que estavam sem atendimento, e alguns desses pacientes estão com covid-19 no consultório. O grau de exposição que inicialmente era só para quem estava no hospital e nas UPAS se tornou generalizado hoje. O grau de exposição do médico, enfermeiro, dentista, é um grau generalizado. Todos tem que ser vacinados. Já deveriam ter sido, disse o presidente do Cremese.
Ele defende que a Prefeitura de Aracaju descentralize a vacinação, tornando efetiva a participação das entidades, a fim de acelerar o processo. “Cada conselho e sindicato tem a sua sede. Se descentralizar a vacinação, sobrará tempo para acabar com esse agendamento que a Prefeitura faz para a população idosa. É injustificável que a essa altura do campeonato se tenha vacina, como aponta o levantamento do Dr. Helton, e não são aplicadas. Não tem como justificar. Para tratar as pessoas, é necessário que os profissionais tenham saúde”, reforça.
O Sindicato dos Farmacêuticos (Sindifarma) foi uma das entidades que se fez representar na coletiva de imprensa. Segundo a vice-presidente da instituição, Daniela Ferreira, nenhum dos cerca de mil farmacêuticos recebeu a vacina em Sergipe. A categoria não foi incluída no grupo prioritário dos profissionais da linha de frente, apesar de ter contato direto com pacientes com covid-19, tanto nas drogarias como nos hospitais, conforme aponta Daniela.
“Recebemos várias denúncias com relação aos hospitais particulares que fazem atendimento a pacientes com covid, onde outros profissionais como técnicos de enfermagem e médicos foram vacinados, e até as pessoas da recepção, mas os farmacêuticos foram considerados que não têm contato com pacientes e não tinha necessidade de vacinar. Mas isso é uma inverdade, porque tem farmacêutico em hospitais que fazem farmácia clínica, que fazem visitas nos leitos. Não existe essa desculpa de que ele não têm contato direto com pacientes”, relatou a vice-presidente do Sindifarma ao F5 News.
A presidente do Conselho Regional de Farmácias, Fátima Aragão, também externou sua queixa quanto à falta de acesso às vacinas pelos profissionais farmacêuticos, sobretudo aqueles que atuam diretamente em drogarias. “Eu gostaria de saber qual o critério que filtrou esses profissionais que estão nos hospitais particulares e nas farmácias? Não dá para atender a essa concepção, e estamos cobrando isso, pedindo para o gestor municipal incluir esses profissionais na vacinação entre grupo prioritário, afinal eles estão na linha de frente porque as farmácias comunitárias, a sociedade sabe, nunca fecharam. Inclusive nelas é realizado teste rápido para covid-19. A categoria vem reivindicando isso, e é justo que reivindique”, disse ao F5 News.
Questionado sobre a denúncia dos profissionais da área de saúde, o prefeito Edvaldo Nogueira negou lentidão na vacinação por parte da Prefeitura de Aracaju. Ele diz ainda que essa situação precisa ser “desmistificada”.
“A Prefeitura está vacinando de maneira muito célere. É tanto que vacinamos 80% das vacinas que recebemos. O problema que tem é a ausência de vacina. A falta de vacina. A quantidade de vacina que está chegando é insuficiente para fazermos a vacinação na velocidade que precisa. Então o problema não é da dificuldade da prefeitura em vacinar, mas da quantidade de vacina que chega limitadamente. Infelizmente, o Governo Federal não tem mandado para os municípios e estados a quantidade de vacinas necessárias para que a gente possa cumprir o nosso propósito, que é vacinar. Sabemos vacinar e temos feito de maneira muito efetiva”, disse o prefeito.





