Projeto Dandara gera renda para mulheres de ocupação em Aracaju
Marca upcycling cria peças a partir de jeans sem condições de uso Cotidiano | por Victória Valverde* 20/04/2019 23h00 - Atualizado em 22/04/2019 13h25Todos os dias noticiamos inúmeros acontecimentos que nos fazem perder um pouco a fé na humanidade. Mas, no meio desse turbilhão de notícias negativas, algumas iniciativas nos fazem enxergar a bondade humana e o poder de ações independentes para transformação nas comunidades onde operam. Uma dessas ações é o Projeto Dandara.
O Projeto Dandara é uma marca upcycling (processo de criar algo a partir de itens antigos) que foi criada a partir da necessidade de uma fonte de renda para as mulheres da ocupação Beatriz Nascimento, localizada no bairro Japãozinho, em Aracaju.
A ação – que teve início em julho de 2018 – consiste em criar roupas a partir de jeans que são doados para a comunidade, mas não se encontram em condição de uso e teriam virado lixo caso não fossem reaproveitados.
O nome do projeto é referente à Dandara de Palmares, guerreira negra do período colonial do Brasil. Exemplo de força, liderança e autonomia, Dandara morreu, mas o seu legado vive na presença feminina da ocupação, com suas mãos inquietas, olhos sedentos por aprendizado e autonomia na reorganização social da comunidade.
Renascimento
A idealizadora e coordenadora do projeto é a estilista sergipana Nana Oliveira, que entrou em contato com a ocupação com o intuito de desenvolver um projeto ligado à moda e gerar uma renda extra para a comunidade. Foi dessa ideia que Dandara nasceu.
O projeto é feito em parceria com o curso de design de moda da Universidade Tiradentes. Os alunos ajudam no desenvolvimento da modelagem e designer de cada roupa durante as suas aulas. As peças são feitas a partir de jeans sem condições de uso, fruto de doações para a Ocupação. Esses jeans são selecionados pela estilista e higienizados.
Uma vez por semana acontece a oficina de bordado livre com as mulheres do movimento – a grande maioria desempregada ou com trabalhos informais de diarista ou empregada doméstica – dentro da Oupação Beatriz nascimento.
Recentemente a atividade teve a adesão de homens da comunidade que se interessaram pelo projeto. O bordado faz parte da produção das etiquetas das roupas. Cada peça ganha uma etiqueta com o nome da costureira que a produziu e o local de produção.
A primeira coleção do projeto deve ser lançada na primeira quinzena de junho deste ano. Após o lançamento, a intenção da estilista Nana é que o projeto se torne uma cooperativa, onde todo o processo de produção passe pelas mãos dos ocupantes e possibilite a capacitação de novas pessoas.
“Dandara não é um projeto de caridade, não é ajuda. É uma ação política necessária nessa sociedade tão desigual. Dentro de uma ocupação existem famílias, mães e pais, crianças que sonham. Essas pessoas são esquecidas pelo estado e pela própria sociedade”, ressalta a estilista.
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Beatriz Nascimento
A Ocupação Beatriz Nascimento foi fundada em 2017 e faz parte do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) de Sergipe. O espaço é habitado por 120 famílias.
Beatriz Nascimento, mulher que nomeia a ocupação, foi uma sergipana negra assassinada no dia 28 de janeiro de 1995 após tentar socorrer uma mulher que estava sendo agredida pelo marido. Através dessa homenagem pode-se ter uma noção do espírito de força e resistência que pairam no local.
A Ocupação é organizada por setores (como infraestrutura e autossustentação, por exemplo), onde cada um tem o seu coordenador. O movimento também realiza atos para reivindicar os seus direitos básicos, como infraestrutura, saneamento, energia elétrica, acesso a cultura e lazer.
O Dandara faz parte do setor de autossustentação, que cuida para que a Ocupação seja autossuficiente. A coordenadora estadual da comunidade, Elis Regina, disse que o projeto foi uma grande surpresa para o local e para si mesma.
“É um novo universo, nunca imaginei que teria esse contato com a moda. E para mim o mais importante é o fato de ser uma moda consciente. Está sendo uma experiência maravilhosa e um grande aprendizado”, conta Elis.
Além de ensinar o ofício de modelista, costureira, produtora e desenvolver a independência financeira e a autoestima, o Projeto Dandara é um grande passo na direção da construção de um mercado da moda mais sustentável e consciente.
“A moda consciente é importante para a construção de uma sociedade saudável. Quando se há transparência em todos os setores da cadeia da moda, inibe-se o trabalho escravo, por exemplo. Esse interesse maior das pessoas em consumir produtos com esse tipo de responsabilidade é o indício que estamos saturados, que não há mais tempo de remediar e que precisamos agir e repensar nossos hábitos de consumo”, conclui a estilista Nana Oliveira.
*Estagiária sob a orientação do jornalista Will Rodriguez.
Fotos: Rebeca Nunes


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