"Japonês sergipano" fala de suas experiências em Aracaju
Aos 110 anos de imigração japonesa, Brasil já conta com mais de dois milhões de filhos e netos de imigrantes
Cotidiano | Por Victória Valverde* 11/07/2018 18h00 - Atualizado em 25/07/2018 16h15

Em 1989, aos 23 anos, Takayuki Muramatsu chegou ao Brasil. Missionário da Igreja Japonesa e nascido na cidade de Tenri, província de Nara, no Japão, Muramatsu veio ao país com o objetivo de transmitir os ensinamentos religiosos que aprendeu, além de ter expectativas de uma boa vida na região.

Muramatsu se instalou primeiramente em uma colônia japonesa situada na área rural de Mata de São João, na Bahia, onde só ficou durante meio ano, indo morar depois em Bauru (SP), Brasília (DF) e Salvador (BA).

Posteriormente, ele se mudou para Aracaju com sua esposa, descendente de japoneses da terceira geração. Segundo Muramatsu, ele escolheu a cidade de Aracaju porque no estado de Sergipe não tinha nenhum fiel da religião dele na época.

Ao completar 110 anos da imigração japonesa no Brasil, Takayuki continua residindo na capital sergipana, atua como professor da língua japonesa e segue na sua missão de espalhar a mensagem da sua igreja, muitas vezes viajando para outros estados para ministrar seus ensinamentos.

A vinda

Foi em junho de 1908 que japoneses como Muramatsu, munidos de sonhos e esperança, vieram ao Brasil através do navio Kasato Matu, que atracou no Porto de Santos, no estado de São Paulo. A embarcação trouxe ao menos 175 famílias de japoneses, em sua maioria agricultores.

No início, os imigrantes fizeram trabalhos agrícolas extremamente mal remunerados, servindo como uma espécie de substituição do escravizado negro, já que a interrupção do tráfico negreiro e as leis abolicionistas criaram a necessidade de mão de obra alternativa.

Entretanto, com o passar de cada geração, japoneses e seus descendentes melhoraram sua qualidade de vida. Hoje, o Brasil é o país com a maior quantidade de japoneses fora do Japão. São mais de dois milhões de pessoas, sendo cerca de 1,3 milhões residentes do estado de São Paulo.

Os japoneses contribuem com o crescimento econômico e com o desenvolvimento cultural do pais. Eles trouxeram sua disciplina, arte, costumes, língua, crenças e conhecimentos, ajudando a formar o painel multicultural que é o Brasil.

 Diferenças culturais

Como Muramatsu morava junto com outros japoneses na Bahia, ele só veio sentir o peso das diferenças culturais entre o Brasil e o Japão quando chegou a Aracaju.

“Aqui na cidade é muito raro encontrar um japonês, o que me fez aumentar a amizade com brasileiros não descendentes de japoneses e começar a aprender sobre a culinária, os costumes e a cultura daqui. Entretanto, a língua ainda é uma barreira. Ainda tenho muita dificuldade de entender o sotaque sergipano”, confessa Muramatsu.

Outra grande diferença entre o Japão e o Brasil é a questão do isolamento e do respeito.  Como o Japão é um país pequeno (23 vezes menor que Brasil), as construções são, em sua maioria, compactas. Por este motivo, os japoneses foram ensinados a não incomodar os outros. Características como a disciplina e a moral são cultivadas desde a infância nas escolas.

“No Japão, somos muito incentivados a ter compromisso, a iniciar atividades no horário enunciado. Acabamos deixando o individualismo de lado e trabalhamos para um bem maior, seja da equipe, da empresa ou do país”, relata Muramatsu.

Admirador

Ao chegar ao Brasil, o japonês se encantou com a efervescência e o afeto do povo residente. “Eu admiro muito as relações entre os brasileiros. Nesse ponto, as pessoas orientais, no geral, têm certa distância, mesmo entre pais e filhos. No início, eu nem conseguia dar beijinhos e abraços. Dançar forró? Não consigo porque sou tímido”, conta.  

Ao ser questionado sobre o que mais admira na cultura brasileira, Muramatsu citou a culinária e a liberdade que vem cultivando na sua estadia. Ele se declara mais japonês do que brasileiro, estando sempre em contato com a sua cultura materna, especialmente ao orar, ato que faz em japonês. 

Apesar do português ainda um pouco limitado e da timidez, Muramatsu é um comunicador nato e sente orgulho em ser um representante da cultura japonesa em Sergipe. Uma das suas maiores alegrias é compartilhar suas vivências, aumentando o interesse de muitos pelo Japão.

Muramatsu é apenas um dos milhares de imigrantes que formam a população japonesa residente no Brasil, que tem possibilitado um intercâmbio cultural enriquecedor que nos aproxima e nos mostra que, independente de nacionalidade, estamos todos conectados através da experiência humana.  

 

*Estagiária sob a supervisão do jornalista Will Rodriguez. 

 

 

 

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