Saúde
Saída de médicos cubanos deixa 12 cidades sem atendimento em Sergipe
Os cubanos representavam 56,4% do total de profissionais do Mais Médicos no Estado
Cotidiano | Por Will Rodriguez e Saullo Hipolito 24/11/2018 07h00

“Mais que médicos, amigos”, essa é a definição que muitos sergipanos deram ao F5 News quando questionados sobre a relação com os médicos cubanos. Os profissionais da saúde, que voltaram para o seu país de origem esta semana, deixam os pacientes brasileiros e eles lamentam a situação após o governo cubano romper o acordo de cooperação entre os países. A estimativa em Sergipe é da perda de 94 médicos que realizavam atendimentos principalmente em zonas rurais e de extrema pobreza do estado.

O ano de 2014 marcou a entrada dos médicos cubanos em Sergipe. Segundo o Ministério da Saúde, o programa atendia mais de 607 mil pessoas em Sergipe, distribuído por 35 cidades. Um levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM) revelou que 12 municípios sergipanos só tinham médicos cubanos, a maioria delas em situação de extrema pobreza ou vulnerabilidade.

Em muitas dessas cidades, ficou configurado que a relação não era só profissional. O F5 News conversou com um desses médicos, que atuava em uma cidade da região do baixo São Francisco, mas ele teve sua identidade preservada por medo de retaliações em seu próprio país. Ele era o único profissional da rede básica de saúde do município e disse que passou a considerar pessoas da cidade como parte de sua família.

 “Quando cheguei encontrei muitas dificuldades para trabalhar, os postos de saúde não tinham condições, sem água, sem ar-condicionado, sem balança, com morcegos dentro. Mas com o apoio da nova gestão, conseguimos mudar a imagem da saúde da cidade. Foi muito perceptível a mudança”, disse o cubano.

Antes de embarcar, o médico também agradeceu o acolhimento dos sergipanos e disse que apesar de lamentar sua partida, prefere não alimentar outro sentimento a não ser o de saudade.  “Já me despeço de vocês, que estão no meu coração. Agradeço pela amizade e espero que a gente possa se reencontrar para fazer muitas coisas, vocês foram minha família aqui”, afirmou.

Na cidade, ex-colegas de trabalho do médico cubano lembraram seu esforço e dedicação. “O médico era nosso amigo, nunca tivemos uma atenção dada pelos profissionais de saúde como tivemos com ele. É de partir o coração saber que podemos vivenciar situações como essa de forma frequente”, disse a agente de saúde Mônica Siqueira.

O Mais Médicos ocupa quase 30% das Equipes de Saúde da Família mantida nos municípios sergipanos, entre profissionais brasileiros e cubanos. Em Sergipe, o programa conta com 170 profissionais, sendo 96 cubanos, 42 brasileiros, 31 brasileiros formados no exterior e uma portuguesa. Os médicos cubanos respondiam por 56,4% do total do Mais Médicos no Estado.

“O médico com quem eu tive contato foi maravilhoso. Ele resolveu dúvidas minhas e solucionou muitos dos meus problemas que tinha há anos, é difícil receber essa notícia da saída deles do programa”, contou ao F5 News a internauta Shirley Alves, que foi paciente de um médico cubano.

O presidente eleito Jair Bolsonaro disse que os médicos cubanos estavam sendo usados como “trabalho escravo” porque o governo cubano tomava 70 por cento de seus salários. Para Bolsonaro, o programa, que começou em 2013, poderia continuar apenas se os profissionais recebessem o pagamento completo e pudessem trazer suas famílias de Cuba.

Em média, uma equipe de Saúde da Família custa aos cofres municipais R$ 45 mil mensais. No caso do Mais Médicos, o governo federal arca com a contratação, a remuneração de R$ 11 mil transferidos ao programa e um incentivo financeiro de R$ 4 mil, enviado aos fundos municipais de saúde.

Cidades que só tinham médicos cubanos:

BREJO GRANDE

2

FREI PAULO

2

GARARU

3

ILHA DAS FLORES

3

ITABAIANINHA

4

ITAPORANGA D'AJUDA

2

NOSSA SENHORA APARECIDA

1

NOSSA SENHORA DE LOURDES

1

PACATUBA

2

SANTANA DO SAO FRANCISCO

1

SAO DOMINGOS

4

TOMAR DO GERU

2

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