Automedicação pode causar intoxicação e outros efeitos indesejados
Huse atendeu mais de 670 casos de intoxicação medicamentosa em 2019 Cotidiano | Por Fernanda Araujo 29/07/2020 07h03 - Atualizado em 29/07/2020 09h34Seja qual for o remédio, a automedicação - ou seja, dispensar acompanhamento profissional - pode trazer grandes riscos à saúde. No Hospital de Urgências de Sergipe (Huse), 677 casos de atendimento por intoxicação medicamentosa foram registrados em 2019. Em janeiro de 2020 foram 56 casos. Os meses de fevereiro em diante ainda não foram contabilizados por conta da pandemia e as buscas ativas devem voltar a partir de agosto para atualização.
Em meio à pandemia, o medo de ficar doente assola a população e pode levar muita gente a querer tomar remédios sem prescrição. A diretora-tesoureira do Conselho Regional de Farmácia de Sergipe (CRF/SE), Larissa Feitosa Carvalho, aponta que o estado de emergência em saúde pública ocasionado pela pandemia do novo coronavírus aumentou o consumo de medicamentos pela população, com o objetivo de tratar ou prevenir sintomas diversos. Segundo ela, ainda não há dados oficiais sobre o perfil deste consumo nos últimos meses no Brasil. “Mas é notório que a maior procura está concentrada nos polivitamínicos, anti-inflamatórios, analgésicos, antigripais e antiparasitários”, afirma.
A automedicação pode causar alguns problemas, conforme explica a farmacêutica, entre eles o risco de intoxicação medicamentosa e reações alérgicas. A diretora do CRF/SE também aponta o risco da utilização de dosagem acima ou abaixo da indicada para tratar a doença ou sintomas, do aparecimento de efeitos indesejáveis, da interação medicamentosa (combinação entre medicamentos), além do risco de mascarar sintomas graves ou sinais de alerta que exigiriam atenção médica especializada.
Existem medicamentos que podem ser vendidos sem receita, como os analgésicos, antigripais, entre outros, mas isso não significa que eles não representem riscos à saúde. Larissa explica que todo medicamento pode ocasionar efeitos indesejados ou não ser eficaz para aquela condição em que foi usado. Mesmo remédios cuja compra não exige receita podem causar intoxicação. Nos casos extremos, em que haja impossibilidade de um médico prescrever a receita adequada, a recomendação é que a automedicação seja realizada mediante orientação do profissional farmacêutico, o que pode ser chamado de “automedicação assistida” ou “automedicação responsável”.
“Medicamentos são produtos químicos ou biológicos que têm ação farmacológica, ou seja, o uso vai provocar alguma reação no organismo. Quase sempre a ação provocada é desejada (exemplos: eliminar a dor de cabeça, baixar a temperatura do corpo), porém outros efeitos (indesejados) podem aparecer associados. O quadro de intoxicação por medicamentos isentos de prescrição geralmente está relacionado a altas doses ou ao surgimento de reações alérgicas. O farmacêutico é o profissional de saúde que se encontra à disposição da população no momento da aquisição dos medicamentos, se tornando o maior aliado na escolha do melhor tratamento para os sintomas a serem tratados ou até mesmo identificando as situações em que o usuário precise ser encaminhado para atendimento médico”, ressalta Larissa Carvalho.
Diante do risco de ingestão acima da dose recomendada, principalmente se o paciente toma mais de um medicamento por dia, seja de forma contínua ou temporária, o recomendado, conforme a farmacêutica, é que se faça anotações e/ou use sistema de alarmes para não confundir os horários de tomada, nem ingerir ao mesmo tempo medicamentos que devem ser tomados separados, por exemplo. Outra preocupação, segundo a farmacêutica, é evitar medicamentos que interagem com alimentos em horário próximo aos das refeições.
“Neste caso, se a pessoa tiver dificuldades de organizar essas informações por conta própria, ela pode solicitar ajuda ao cuidador (se houver) ou do farmacêutico presente no estabelecimento de saúde mais próximo”, orienta, ressaltando que caso tenha ficado dúvida após a orientação do prescritor e mesmo lendo a bula, que pode apresentar linguagem de difícil entendimento pela população, a sugestão é sanar essas dúvidas com o profissional farmacêutico.
Recomendações
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) orienta ao paciente que procure sempre utilizar qualquer medicamento com a orientação do profissional de saúde e informe, durante consulta, quais medicamentos utiliza, se obteve reações e se tem problemas de saúde e alergias. Ao comprar o medicamento, o que só deve ser feito em farmácia legalizada, é importante ainda conferir se é o receitado, ficar atento à validade, verificar o registro da Anvisa/Ministério da Saúde na embalagem, não aceitar medicamentos que estejam com a embalagem aberta, com o lacre rompido, com o rótulo borrado ou apagado. A ANS também recomenda solicitar ao farmacêutico orientações sobre como guardar o medicamento, que não deve ser armazenado em local com luz, umidade e calor, como banheiro e cozinha, por exemplo.
Leia outras orientações:
- Não use medicamentos indicados por outras pessoas, como amigos, vizinhos, parentes ou o balconista da farmácia. Cuidado! Doenças diferentes podem ter sintomas parecidos ou até iguais, mas usar medicamento sem recomendação de um profissional de saúde pode ser prejudicial a sua saúde;
- Antes de começar a usar o medicamento, leia a receita médica com atenção.
- Faça uma lista: anote todos os medicamentos, com o nome e quantidade de cada um. O farmacêutico pode te auxiliar nesse processo. Nunca altere a dose diária recomendada;
- Tome seus remédios na quantidade indicada, nos horários certos e pelo número certo de dias. Na dúvida, consulte o profissional de saúde que fez a prescrição;
- Importante: Se você é um paciente portador de alguma doença crônica, que exige uso continuado de um ou mais medicamentos, não interrompa o tratamento sem o conhecimento de quem prescreveu;
- Comprometa-se a fazer o tratamento completo, não suspenda o uso porque teve melhora dos sintomas. Os medicamentos precisam ser tomados por todo o tratamento indicado, principalmente durante o uso de antibióticos e outros medicamentos de uso controlado;
- Caso tenha dificuldade em organizar a rotina de utilização diária de seus medicamentos, solicite ajuda dos farmacêuticos. Algumas farmácias oferecem dispositivos que auxiliam o paciente nesta organização e favorecem a adesão ao tratamento;
- Observe os seus sintomas e se você tem sentido alguma alteração após o início do uso do medicamento, como coceiras, tontura, dores de cabeça, alteração de humor, etc. E comunique ao profissional de saúde que o prescreveu;
- Não corte o remédio ao meio ou abra as cápsulas, fazer isto pode reduzir o seu efeito e, posteriormente, dificultar sua identificação;
- Evite a ingestão de bebidas alcóolicas; medicamentos e álcool são uma combinação que merece atenção e deve ser evitada;
- Mantenha seus medicamentos em local protegido. De preferência os mantenha em sua própria embalagem e com a bula. É importante manter os medicamentos longe do alcance de crianças e animais domésticos, para evitar acidentes.
*Com informações da ANS





