Grupo "Bruxas do cangaço" usa música para honrar relatos de resistência
Rappers lutam para quebrar hegemonia masculina dentro do gênero Entretenimento | Por Victória Valverde* 02/03/2019 15h00 - Atualizado em 03/03/2019 19h11OO cenário do rap nacional, inclusive do sergipano, é dominado por homens. Dito isso, cada vez mais grupos femininos estão indo de encontro ao preconceito e conquistando seu lugar no gênero. Um deles é o “Bruxas do Cangaço”, composto por três moradoras de Sergipe.
Iniciado no dia 8 de março de 2017, o grupo – que já passou por outras formações – é atualmente composto pela baiana Daniele Pereira (Danny Mc), que atualmente mora em São Cristóvão; e pelas sergipanas Emilly Neri (Pagu mc) e Emília Damares (Reversa mc).
O “Bruxas do Cangaço”, como sugere o nome do grupo, procura honrar a luta e a resistência das mulheres nordestinas, relatando suas vivências e questões norteadoras. A primeira apresentação das bruxas foi em 2017, em um sarau organizado por mulheres e para mulheres no Rosa Elze, em São Cristóvão. O evento as deu incentivo e força para continuar.
“Bruxas são resistência em toda a história, o foco é trazer todo esse contexto para a atualidade. Já o cangaço representa o orgulho da nossa origem. Somos nordestinas e batemos no peito com essa força”, revela a integrante Daniele Pereira.
Resistência através da música
“Esse mundo vai tentar levar a força que há em ti, vai por pedras onde tu for, vai rir quando você cair, mas não se abale, fecha a cara e vai, se tu já chegou aqui, tu aguenta muito mais”. Com essa citação da música “Chuva” dá para se ter uma ideia da mensagem que as Bruxas do Cangaço querem passar.
As influências musicais do grupo vêm muito do hip hop nacional da velha escola (coletivo de grupos e rappers do período de 1984 até 1994) e mulheres do gênero como Carol de Souza, Brisa Flow, AIKA47 e Stephanie Mc.
Vale ressaltar que as rappers participam de todo o processo de criação e produção das músicas, indo desde a composição das letras e batidas até a produção dos vídeos. O grupo participa do selo independente “Occa Produções”, onde uma das bruxas, Emilly Neri, também é produtora.
"A gente fez o CD do rap sergipano, juntamente com outros corres, começamos a vender e conseguimos investir em um home studio, a OCCA Produções. Começamos a nos produzir e tudo que as bruxas alcançaram e vem alcançando aos poucos é fruto de muita luta, muito suor derramado, muitas noites sem dormir, força de vontade e fé que esse jogo vai virar", disse Danny Mc.
Sensualidade de Dalila e força de Sansão
Por ser um espaço majoritalmente ocupado por homens, as práticas de machismo no rap ainda imperam de forma consistente. A mulher ainda é muito vista apenas pelo seu corpo, que acaba sendo uma fonte de lucro na indústria. Como o rap é uma narrativa de resistência, ser mulher dentro do rap, em especial ser mulher negra, é ser resistência na resistência.
"Os produtores prezam muito mais pela presença dos homens nos eventos. A quantidade de grupos femininos é totalmente desproporcional, na faixa de 5 grupos masculinos pra 1 feminino. Mulher no hip hop tem que deixar de ser tratada como cota e passar a ser reconhecido de forma equivalente", enfatiza Danny Mc.
As meninas do Bruxas do Cangaço já vivenciaram diversas situações onde sentiram na pele essa disparidade que existe entre os gêneros dentro do rap. Seja por serem tratadas como "manos", por não serem dados a mesma atenção e tempo no holofote ou por serem hipersexualizadas, o preconceito está presente.
Apesar de todas as dificuldades, o grupo persiste e segue a sua militância musical de forma consistente. Aos poucos, de tantos falarem e questionarem, o meio do rap está abrindo mais espaço para mulheres, algo que a plateia cobra e demonstra apreço quando acontece.
"É impossível não comentar a importância de colocar um grupo de rap feminino no palco, onde elas fizeram uma performance extremamente politizada e de relevância social gigante, para um público predominantemente masculino. Bruxas do Cangaço tem um som poderosíssimo e um potencial gigantesco. Tenho orgulho de dizer que essas mulheres tão fortes e com tanto a dizer estão representando Sergipe", exclama a estudante Bruna Oliveira, que esteve no mais recente show do grupo.
Segundo as meninas do Bruxas do Cangaço, já é possível ver o resultado da luta por seu espaço de fala. A desconstrução do "hip hop macho" já está acontecendo, mas ainda há muito o que se lutar.
"Devagarzinho a gente está evoluindo. O importante é manter o foco na essência do hip hop, que é salvar vidas, nossas vidas", concluem.
*estagiária sob a orientação da jornalista Monica Pinto

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