TEXTOS ANTIVIRAIS (45)
Blogs e Colunas | Luiz Eduardo Costa 20/01/2021 21h31 - Atualizado em 20/01/2021 21h38

DO MARECHAL PAULUS AO GENERAL PAZUELLO

(General de Stalingrado Von Paulus)

(General da pandemia Pazuello)

O nome do marechal de campo Friedrich von Paulus é sempre lembrado quando se analisa a fragorosa derrota em Stalingrado, primeiro grande revés militar da Alemanha nazista, durante a Segunda Grande Guerra (1939-1945).

Paulus era um general discreto, não se distinguia entre a elite onde predominava a casta orgulhosa dos aristocratas prussianos, apesar do von, quase sempre sinal de origem nobre, ou apenas desnecessária vaidade, como seria o caso de Ludwig von Beethoven, aquele, que se só houvesse criado a Nona e Quinta sinfonias seria colocado na galeria dos gênios do mundo.

Dizia-se, que tendo chegado a general, Paulus nunca comandara sequer um regimento. Ele não era exatamente o “troupier”, ou o “sargentão”, como são classificados em francês os oficiais generais que não saem do convívio com a tropa, a soldadesca. Também não era um estudioso, “sorboniano”, como eram chamados os generais brasileiros intelectuais, ligados ao pensamento de segurança nacional formulado na Escola Superior de Guerra, as vezes equivocadamente chamada de “a Sorbonne” brasileira.

Dos cinco generais que no regime militar exerceram a presidência, três, eram “sorbonianos”, Castelo, Geisel e Figueiredo. Os outros dois, Costa e Silva e Garrastazú Médici eram troupiers, este, tendo na assessoria de comunicação social o coronel Octávio Costa, um alagoano, culto, que tinha um texto brilhante e fazia os seus discursos. Por obra de puxa-sacos, Médici chegou a ser cogitado para a Academia Brasileira de Letras, honraria que certamente iria recusar. Octávio Costa que chegou a general de exército, era, ao mesmo tempo, “ sorboniano”, e troupier. Ele combateu na Itália contra o nazi-fascismo, quando jovem segundo tenente.

Os oficiais generais alemães, das três Armas eram extremamente competentes nas artes da guerra, cada um no seu ramo específico, mas, poucos se distinguiam pela capacidade intelectual, abrangendo outros temas que não fossem aqueles adstritos ao seu ofício. Em outras palavras, culturalmente eram limitados.

Os chefes militares alemães logo identificaram-se com a verborragia agressiva de Adolf Hitler. O orgulho nacional recuperado com o rearmamento, era a principal razão.

Paulus tornou-se um hitlerista, obediente e submisso, sem contudo ser um exaltado. Entrou na guerra desde o início, mas sempre em posições subalternas, sendo comandado e nunca comandando.

Era um burocrata organizado com propensão para a logística.

Participou, desde o início, da Operação Barbarossa a invasão da Rússia em 1942, fazendo parte de um corpo de exército que iniciava o cerco de Stalingrado. Diante das dificuldades inesperadas, Hitler resolveu trocar de general, e, surpreendendo o seu círculo íntimo nomeou Paulus para comandar o gigantesco aparato bélico, formado por mais de 250 mil homens.

Enquanto crescia a resistência dos russos, Paulus hesitava em tomar decisões. O outono extremamente frio já anunciava o inverno rigoroso, até para os padrões russos. O abastecimento era precário e já começavam a ser devorados os cavalos de uma Divisão romena cujos combatentes quase reduzidos à escravos, desertavam em massa. O panorama da batalha era adverso para os alemães. Paulus, com o seu Estado Maior, concluíram que a única salvação seria romperem o cerco em direção a uma poderosa força de blindados alemães que avançava para reforçar as defesas em Stalingrado, e juntos buscarem um ponto mais seguro onde passariam o inverno. Transmitiu a proposta a Hitler que a recusou furioso, soltando impropérios e ordenando que resistissem onde estavam, até o último homem. Promoveu o general Paulus a Marechal de Campo, lembrando-lhe, que nenhum soldado alemão, naquele que era o segundo posto mais alto, jamais havia se rendido.

Paulus estava convencido de que se permanecessem onde estavam, iram ser fatalmente derrotados, com perdas imensas de vidas. Teria as alternativas de renunciar ao comando, o que poderia ser considerado desonroso, ou fazer a retirada e salvar seu exército do extermínio. Preferiu obedecer a Hitler.

Dentro de poucos dias, 40 mil homens cambaleantes, feridos caminhavam sobre a neve espessa na longa jornada até os campos de concentração na Sibéria. Foi o que restou do poderoso exército. Desses, menos de 5 mil retornariam a Alemanha.

Paulus, em uma emissora russa transmitindo em alemão, fazia apelos para que os alemães se livrassem o mais rapidamente possível de Hitler, para não levarem o país à destruição final. Depois, no Tribunal de Nuremberg, transferiu a culpa do fracasso aos seus superiores, a Hitler inclusive, que já estava morto, mas o que disse ajudou a levar à forca os generais Jodl e Keitel.

O general Pazuello nada tem com nazismo nem com guerras, felizmente, porque nunca fomos um país belicoso, seu nome entra, aqui, apenas, porque em termos de capacidade para decidir e comandar existem similitudes com o que fez o general alemão.

Paulus, entre a sua convicção de militar e sua visão realista do teatro de guerra, equivocou-se, ao deixar de dar a ordem e salvar as vidas dos seus comandados, evitando a catástrofe maior.

Há sempre aquele dilema entre a consciência e o dever da obediência hierárquica, mesmo sabendo-se, numa determinada circunstância, que a ordem parte de alguém movido por orgulhosa insanidade e desprezo à vida humana.

Esse dilema, em tantos instantes de dramaticidade histórica, tem desafiado a dimensão ética e a formação humana de quem o enfrenta.

Quando o general Pazuello, nosso Ministro da Saúde, anunciou que o Brasil iria comprar cem milhões de doses da vacina chinesa, ele tinha plena consciência da gravidade do problema que enfrentávamos, e que apenas a eficácia de uma vacina poderia começar a resolver. Agiu de forma consciente e responsável, como agora tragicamente estamos a constatar. Talvez, ele não soubesse exatamente com quem estava lidando.

E houve aquela forma grosseira de desautorizar o Ministro, feita exatamente pelo presidente da República Jair Bolsonaro, que aproveitou a ocasião e mais uma vez atacou a China, com aquelas zombarias nada compatíveis com o cargo que ocupa, e do qual, tantas vezes, depende a vida dos brasileiros.

Naquele instante, Pazuello não poderia diminuir-se ao dizer que existem os que mandam, e os que obedecem, enquanto Bolsonaro ao seu lado comemorava.

Ele deveria ter deixado o cargo e retornado ao Exército, de onde, aliás, não deveria ter saído.

Vai pesar na sua honrada carreira militar a acusação de ter sido frágil, no instante que marcaria com tinta indelével a capacidade do general, apto a comandar tropas e tomar decisões fortes, quando se trata de combater para salvar vidas. Permitiu que prevalecesse a insanidade do ex-capitão.

De outubro até agora, quando ele quis e foi impedido de comprar as vacinas, morreram mais de cem mil brasileiros, e muitos outros, desgraçadamente irão morrer, se as vacinas não chegarem a tempo, em consequência dos disparates verbais do presidente, e do pandemônio causado pelos seus filhos e o teratológico, (ou seria escatológico?) ministro das Relações Exteriores, que varreu, do mundo, a imagem harmoniosa que já teve o Brasil.

A POSSE DE JOE BIDEN

Foi simples assim: Saiu a barbárie, entrou a civilização.

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Luiz Eduardo Costa

É jornalista, escritor e membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências. Ambientalista, fundou o Instituto Vida Ativa que, dentre outras atividades, viabilizou em 18 anos o plantio de mais de um milhão de mudas da Caatinga e Mata Atlântica.

E-mail: lecjornalista@hotmail.com

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